Marta Temido apresentou o seu pedido de demissão esta madrugada (30 de agosto), pedido esse que foi aceite pelo primeiro-ministro António Costa e comunicado ao Presidente da República. Em declarações aos jornalistas, o primeiro-ministro disse respeitar “a avaliação e decisão que a Sr. Ministra tomou” e expressou “agradecimento muito profundo pelo trabalho que foi desenvolvido ao longo destes anos” por Marta Temido, sublinhando que foi uma governante “que teve de enfrentar uma situação única e extraordinária que ninguém teve de enfrentar durante a nossa vida democrática, uma pandemia com a gravidade e dureza que encontrámos na Covid-19”. António Costa admitiu, ainda, junto dos membros da imprensa que uma das razões que poderá ter motivado Marta Temido a solicitar a saída foi a recente morte de uma grávida em contexto de transporte inter-hospitalar: “existem linhas vermelhas que as pessoas estabelecem e admito que uma morte que decorre em serviços que estão na sua tutela possa ter sido a gota de água”.
Sobre a substituição de Marta Temido, o primeiro-ministro referiu que “não será um processo rápido”, até porque “não estava a contar com esta mudança” e terá de pensar no assunto com tempo. Por outro lado, António Costa quer que a ministra demissionária conclua o dossier da constituição da Direção Executiva do SNS e apresente as suas propostas neste domínio ao Conselho de Ministros.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), a demissão da ministra não foi surpreendente, mas antes o timing: “nunca pensei que o anúncio da demissão de um ministro pudesse acontecer durante a madrugada”. Para Miguel Guimarães, as razões que terão conduzido à saída da governante prendem-se não tanto com a recente morte de uma grávida transportada entre unidades hospitalares, mas antes com “a grande crise no SNS, uma crise que se arrasta já há bastante tempo e para a qual não têm sido propostas alternativas pelo governo”.
Relativamente ao que aí vem, o bastonário da OM relembra que a estratégia para as diversas áreas de intervenção governativa em Portugal é definida pelo primeiro-ministro, o que significa que “é pouco provável que a mudança de ministro traga uma política de saúde diferente, pelo menos no imediato”. Este obstáculo de fundo é preocupante, uma que segundo Miguel Guimarães o país “tem problemas graves, que tem de ser resolvidos com a máxima urgência. Questões relacionadas com a transformação do SNS – que o tornem mais competitivo, mais rápido naquilo que é o seu modelo de gestão e a autonomia das unidades de saúde – por um lado e com o reforço do seu capital humano, por outro”.
Nuno Jacinto, presidente da APMGF, esclarece que a Associação representativa dos médicos de família não está propriamente interessada em comentar a demissão de Marta Temido, estando antes focada em matérias essenciais: “o que nos interessa é que se respeite e valorize o trabalho dos médicos de família, para que possamos exercer a nossa profissão com qualidade e segurança, de modo a prestar os cuidados de saúde que os utentes merecem e precisam”.
Para o dirigente associativo este é o momento de assumir uma atitude construtiva, a bem dos portugueses e do SNS: “o problema não é o titular da pasta, são as políticas. Não comentamos demissões nem interferimos em escolhas. Estamos sempre disponíveis para encontrar soluções. Aguardemos serenamente a escolha e tomada de posse da nova equipa ministerial”.