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Resgatado da morte branca – Nova data da sessão: 8 de março

Na sequência de um AVC sofrido em 1995, o escritor José Cardoso Pires ficou afásico, amnésico, perdido num limbo de significados e símbolos, condicionado na interação com o mundo. Aos poucos, foi recuperando as capacidades e em 1997 publica um depoimento autobiográfico de enorme valia, «De profundis, valsa lenta», expressão de alguém que procura reencontrar-se e que descreve o doloroso – mas, em simultâneo, esclarecedor – processo de regresso ao «eu» e a uma espécie de nova identidade, o caminho de regresso da «morte branca», nome que o próprio Cardoso Pires cunhou para designar o estado de latência e isolamento no qual foi forçado a mergulhar.

Este livro, que nos oferece a visão desamparada do doente com total crueza e que tem como segunda protagonista – sempre presente – uma doença que muito tem pesado sobre os portugueses, dará o mote à próxima sessão do Clube de Leitura APMGF, programada para o dia 8 de março, pelas 21h00 (nova data). A participação no Clube de Leitura está sujeita a inscrição prévia, é gratuita para os sócios da APMGF e tem um custo de 35 euros para não sócios (valor que permite participar no ciclo integral de oito sessões). No final do ciclo, todos os participantes do Clube de Leitura que tenham assistido às sessões em direto receberão um diploma de participação entregue pela APMGF.

Conheci o autor, com quem por algumas ocasiões privei, em eventos sociais restritos. Conheci muito bem a mulher, a dedicada e nomeada Edite. Por isso, soube do acidente de carro, do AVC, da recuperação e do lançamento do livro”, explica Eduardo Mendes, o médico de família que irá dinamizar a sessão. O ex-presidente da APMGF confessa que leu a primeira edição da obra “com a avidez e a sofreguidão do sedento à beira da fonte” e que a mesma teve um grande impacto sobre si. “Dois anos após um acidente vascular, que temporariamente lhe afetou a memória, a fala, a leitura, a escrita, o autor consegue dar o testemunho, eloquente, da sua «viagem à desmemória»”, explica. Sobre o facto de ter escolhido este trabalho literário em específico para a reflexão coletiva, Eduardo Mendes garante que para além do vínculo pessoal ao autor, outra causa o motivou: “a escolha deste livro deveu-se, em primeiro lugar, à particularidade de nele ser abordada a questão dos acidentes vasculares do lado do «avesso» e não do habitual e muito comum lado do «direito». Depois, há a inegável qualidade literária do texto, «a singularidade do testemunho e a linguagem única que é usada para o transmitir», como menciona o Prof. João Lobo Antunes no prefácio”.

Para Eduardo Mendes, nunca será excessivo classificar este caderno de memórias como único na literatura mundial, na medida em que existem muitos relatos sobre os efeitos devastadores das doenças que geram despersonalização, mas quase nunca na perspetiva de quem um dia, de repente, se vê despojado de palavras, sentimentos, afetos e história: “descrições científicas, que abordam a vertente biológica, que descrevem o quadro clínico, os sintomas, a etiologia, a evolução, etc, abundam, mas são sempre visões e análises do exterior. Aqui estamos perante uma descrição e análise do interior do próprio sujeito da ação, que aborda a vivência da doença, a sua relação consigo próprio, com os outros e com o meio. Compreender e sobretudo sentir o sofrimento dos outros, nomeadamente dos doentes que perderam faculdades, é sempre um bom princípio e meio caminho para conseguir ajudar no seu processo de cura e de recuperação”.

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