No dia de arranque do projeto-piloto «Ligue antes, salve vidas», que no raio de ação do ACeS Grande Porto IV – Póvoa de Varzim/Vila do Conde visa reduzir a utilização inapropriada ou evitável dos serviços de urgência e reforçar a importância de os utentes darem primazia em primeira instância à linha telefónica SNS 24 – a qual decidirá posteriormente se o doente deverá deslocar-se ao serviço de urgência hospitalar, aos CSP ou ficar em auto-cuidados – o presidente da APMGF, Nuno Jacinto, esclareceu em entrevista à RTP3 que com esta iniciativa “não estamos a falar somente da resposta ao nível dos serviços de urgência hospitalar, mas sim de reformular tudo aquilo que é a resposta à doença aguda no SNS”, recordando ainda que “já existe uma grande resposta para a doença aguda nos centros de saúde, algo que convém não esquecer. Por vezes, quando falamos deste tema parece que vamos enviar os doentes para os centros de saúde, assumindo que lá não se faz resposta à doença aguda, algo que não é verdade! Por cada episódio de urgência hospitalar, são vistos dois a três doentes com doença aguda nos CSP”. O dirigente frisou que “a grande maioria da resposta à doença aguda em Portugal neste momento ocorre a nível dos CSP, nas unidades de saúde familiar e unidades de cuidados de saúde personalizados. As urgências estão sobre-lotadas, de facto, mas os centros de saúde também vivem em sobrecarga”. Nuno Jacinto explicitou, em paralelo, que o projeto-piloto do ACeS Grande Porto IV – Póvoa de Varzim/Vila do Conde prevê portas de entrada alternativas à urgência que passam pelo próprio hospital, em particular encaminhamento ágil para consultas de especialidade hospitalar, acesso facilitado a hospitais de dia ou a hospitalização domiciliária: “ou seja, os hospitais têm de readaptar a sua resposta, para que os doentes não sejam todos drenados para o serviço de urgência, local onde claramente muitos deles não deveriam estar”.
O presidente da APMGF alertou igualmente para a necessidade absoluta de se olhar para este problema sem perder de vista os riscos associados à modulação da procura dos centros de saúde: “não podemos ter utentes a entrar na urgência para ter uma consulta mais rápida com o seu médico de família, devido a um qualquer critério de prioridade enviesado. Se assim for, estaremos a inverter completamente o circuito. Por outro lado, nos centros de saúde não desejamos encontrar utentes a recorrer ao serviço por tudo e por nada e é vital reforçar o recurso à linha SNS 24 e aos auto-cuidados, ao mesmo tempo que apostamos na literacia em saúde”.
O projeto-piloto «Ligue antes, salve vidas» foi oficialmente apresentado pelo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, o qual declarou que “a nível nacional 4 em cada 10 doentes que vai a uma urgência não se desloca ao local adequado, muitas vezes porque não tinha outra alternativa. O que queremos é agora criar essas alternativas, de forma a evitar que as pessoas escolham as urgências como ponto de entrada no sistema de saúde”.