Em entrevista à RTP, o presidente da APMGF, Nuno Jacinto, mostrou-se confiante de que seja possível encontrar um acordo entre Ministério de Saúde e sindicatos médicos a breve trecho: “é positivo que haja uma aproximação e que finalmente comecemos a ver alguma luz ao fundo do túnel. Encaramos toda esta situação com enorme preocupação, porque as negociações com os médicos decorrem há muitos, muitos meses e não tem sido possível atingir uma coisa que é simples e tem sido pedida por todos nós; a valorização correta e digna do nosso trabalho. Infelizmente, esse acordo ainda não foi atingido e a cada nova reunião esperamos ansiosamente que exista uma abertura por parte da tutela para ouvir as posições dos médicos. Esperamos que isso aconteça no próximo sábado, quando nova reunião se venha a concretizar”.
A propósito da redução do número de horas semanais de trabalho dos médicos exigida pelos sindicatos, o dirigente associativo lembrou que “não podemos ter colegas a fazer 800, 900 horas extraordinárias por ano, o que corresponde a mais de 4 meses de trabalho anuais. Temos, isso sim, de valorizar o trabalho médico e atrair mais profissionais para o SNS. Precisamos de mais médicos no SNS e com esses colegas a trabalharem 35, 40 ou 42 horas semanais – conforme o regime que cada um escolher – evitar que seja preciso optar pelo recurso desmesurado a horas extraordinárias que acontece há anos mas se tem agravado ultimamente”. Já sobre a recuperação salarial mínima de 30% defendida pelas estruturas sindicais, o presidente da APMGF frisa que não se trata tanto de um aumento da remuneração, mas antes da correção de um erro do passado: “este aumento de 30% não é um verdadeiro aumento, é uma recuperação daquilo que foi perdido ao longo de mais de 15 anos, período em que os médicos viram o seu poder de compra reduzido, inclusive com aumentos inferiores à generalidade da administração pública. Isto não pode continuar a acontecer e se não for possível atualizar a tabela salarial, de forma digna, o que acontece é que os médicos não olharão para o SNS com atratividade e não quererão nele permanecer. Ninguém quer trabalhar num local onde ganha mal, trabalha muito e não recebe as condições para exercer a sua atividade com qualidade e segurança”.
Por último, Nuno Jacinto comentou a ideia agora avançada por Manuel Pizarro de utilizar o setor social para suprir a falta de médicos de família (MF) em algumas regiões do país, explicando que a melhor via para servir bem os portugueses nos cuidados de saúde primários está a vista de todos e requer apenas vontade política: “andamos sempre a tentar reinventar a roda, quando a solução está mais do que encontrada. Precisamos de cativar os MF para ficarem no SNS. Há anos que isto é dito e que são apontadas medidas, sendo que poucas ou nenhumas são implementadas e, como tal, temos menos MF no SNS do que seria desejável (…) podemos encontrar os remendos que quisermos e este será mais um (o próprio ministro da saúde refere que tal opção se verificaria apenas enquanto não conseguimos ter mais MF no SNS), porém é essencial saber que tipo de contratualização é feita, durante quanto tempo e com que colegas. De facto, é fundamental que este modelo, a avançar, seja concretizado com especialistas em MGF. Se vamos voltar à ideia peregrina de substituir os MF por outro qualquer especialista então estaremos, uma vez mais, no caminho errado, seja esta solução implementada no setor público, social ou privado”.