Estudo do GEST sobre as expetativas dos profissionais face às ULS reforça a necessidade de envolver mais quem está no terreno

O primeiro dia do Encontro de Grupo de Estudos da APMGF contou, entre muitas sessões de natureza clínica e sócio profissional, com um momento especial no qual o Grupo de Estudos de Gestão em Saúde (GEST) da APMGF apresentou os resultados de um estudo destinado a avaliar as expectativas dos profissionais em relação às unidades locais de saúde (ULS). O GEST conduziu este estudo de agosto a novembro de 2023 e utilizou um questionário estruturado para explorar as perspetivas e desafios percebidos. Foram obtidas respostas de 342 profissionais de Medicina Geral e Familiar (MGF). Os tópicos abordados variaram desde o impacto na gestão de recursos até à valorização profissional, autonomia, acesso e satisfação. Com uma metodologia robusta, combinando análises quantitativas e qualitativas, o objetivo foi fornecer um relatório completo com análises estatísticas, insights qualitativos e recomendações. Com isto, os autores do estudo procuraram contribuir significativamente para o desenvolvimento de políticas e decisões relacionadas à implementação das ULS, promovendo uma abordagem informada e eficaz no setor da saúde.

O questionário abrangeu áreas tão diversas como os recursos (humanos, financeiros e materiais), acessibilidade, formação, satisfação e modelo de prestação de cuidados. Nas questões quantitativas existiam 5 opções, traduzindo-se na opinião que uma transformação para ULS impactaria os cuidados saúde primários, como muito positiva, positiva, nem positiva nem negativa, negativa ou muito negativa.

No âmbito das áreas consideradas em que uma transição para ULS traria um impacto positivo ou muito positivo, foi destacado a criação do processo clínico único (por 61,1% dos inquiridos), o processo de consultadoria – contacto entre profissionais CSP/CSS – (52%), a uniformização no acesso à prescrição comparticipada de meios complementares de diagnóstico (50,9%), as iniciativas formativas – cursos/ações formativas conjuntas CSP/CSS – (48,8%) e a inclusão de profissionais de serviços hospitalares em equipas de proximidade nos CSP (48,2%).

Já quanto às áreas com tendência negativa numa transição para ULS realce para o respeito (ou a falta dele) pela autonomia das USF, apontado por 72,2% dos inquiridos, a atribuição de novas tarefas e exigência de novas competências – task shifting – (67,8%), a distribuição equitativa de investimento entre CSP e secundários (64,9%), o impacto no processo de contratualização dos CSP (64%) e o efeito na satisfação dos profissionais (62%).

No que respeita à caracterização dos respondentes deste estudo, podemos observar que uma maioria substancial tem idades entre 35 e 44 anos, trazendo uma visão fresca das dinâmicas emergentes. A voz das mulheres evidenciou-se com uma maioria de 63,7%. Relativamente ao modelo organizativo verifica-se uma tendência expressiva do modelo B com (47,7%). Há uma proeminência nos respondentes dos especialistas em MGF (83,6%), enquanto a maioria (74,6%) nunca trabalhou integrado numa ULS.

Segundo António Pereira, do GEST, “os resultados obtidos revelam áreas críticas de preocupação. Os desafios incluem a limitação da autonomia das USF, o processo de contratualização, a desigualdade de investimento entre CSP e CSS, bem como a motivação e envolvimento dos profissionais. Isso impacta a confiança na liderança, o clima organizacional e afeta a satisfação. Mas estes resultados refletem também oportunidades para intervenções estratégicas que visem aprimorar esta reestruturação. Por outro lado, este estudo sublinha uma desconexão vital: a necessidade urgente de envolvimento dos profissionais”.

 

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