“A pequena cirurgia já é uma competência que faz parte da formação e da prática diária de um Médico de Família em vários países europeus”

É um dos mais recentes grupos de estudos da APMGF e promete dinamizar a partilha de conhecimento e de experiências numa área de atuação que, tradicionalmente, se tem mantido arredada da rotina da maioria dos médicos de família portugueses. Conheça um pouco melhor o Grupo de Estudos de Pequena Cirurgia (GEPeCx) e os seus objetivos nesta entrevista com dois membros da sua comissão coordenadora.

 

Como surgiu o GE de Pequena Cirurgia e com que objetivos essenciais?

Sara Almeida – Este grupo nasceu do desejo de promover a Pequena Cirurgia nos Cuidados de Saúde Primários. A Pequena Cirurgia configura-se como um serviço que, sendo tecnicamente acessível à maioria dos médicos, contribui para o desenvolvimento dos CSP e melhora a qualidade do atendimento prestado aos utentes. Os nossos principais objetivos são difundir a possibilidade de realizar tratamentos de pequena cirurgia nos CSP, facilitar o apoio técnico-científico, numa perspetiva de entreajuda e uniformização de cuidados e realizar formações de pequena cirurgia, como cursos básicos de sutura.

A pequena cirurgia nos CSP foi sempre encarada como uma valência sobretudo importante em locais de prática mais isolada ou distante de unidades hospitalares. Esta visão continua a fazer sentido nos dias que correm?

Catarina Novais – Tendo o Médico de Família o papel privilegiado de cuidar dos utentes de forma abrangente e, sendo a necessidade de procedimentos de pequena cirurgia tão frequente, torna-se muito relevante que esta competência seja difundida nos CSP, sobretudo em locais mais distantes das unidades hospitalares. É um serviço que pode ser prestado pelo Médico de Família e que permite uma resposta muito mais célere e acessível a todos os que necessitem. Para além da diminuição dos tempos de espera, proporciona-se um serviço de proximidade, melhorando a acessibilidade e a satisfação dos utentes, com uma inevitável melhoria nos cuidados prestados.

A formação pré-graduada, pós-graduada e contínua dos médicos de família é de um modo geral deficitária no que respeita às intervenções de pequena cirurgia?

Catarina Novais – A pequena cirurgia já é uma competência que faz parte da formação e da prática diária de um Médico de Família em vários países europeus, como é o caso de Espanha e do Reino Unido. Em Portugal, o contacto com estes procedimentos durante a especialidade de MGF é escasso e até facultativo, estando a realização de procedimentos de pequena cirurgia centrada a nível hospitalar. Pretendemos que esta prática seja difundida também para os CSP, estando já estabelecido que esta é uma prática segura e custo-efetiva.

A situação ideal passaria por ter em cada unidade funcional dos CSP um colega com competências acrescidas ao nível da pequena cirurgia que pudesse servir de apoio a todos os utentes inscritos na unidade em serviço de carteira adicional, ou é realista pensar na formação de todos os especialistas nesta área?

Catarina Novais e Sara Almeida – Sendo uma técnica com necessidade de formação específica para ganho de competências, a situação ideal seria existir uma consulta especializada dentro de cada USF. Atualmente, a aquisição de competências de pequena cirurgia é possível, sobretudo, através da realização de estágios hospitalares opcionais, partindo da motivação dos profissionais. Tal como acontece em outros países, é realista pensar que a educação nesta área possa fazer parte da formação de todos os Médicos de Família. Para já, pretendemos auxiliar todos os interessados em adquirir as competências práticas essenciais, assim como os princípios básicos para a organização de uma consulta de pequena cirurgia.

Do ponto de vista infraestrutural e de equipamento, possibilitar as condições para pequena cirurgia nos CSP é algo de complexo?

Sara Almeida – Pelo contrário. A realização de pequena cirurgia é facilmente executável com os equipamentos atualmente existentes na maioria das unidades de saúde familiar. Em termos físicos, pode ser realizada, por exemplo, numa sala de tratamentos. Relativamente ao material necessário, a maioria está disponível, podendo ser organizada em kits próprios para a consulta.

 

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