A sessão do Clube de Leitura APMGF a realizar no dia 5 de abril recupera uma feliz tradição iniciada o ano passado: convidar um grande vulto da literatura em língua portuguesa para estar – em carne e osso – no Encontro Nacional de MGF e trocar ideias sobre uma das suas principais obras. Neste caso, será Lídia Jorge que nos dará o prazer de dialogar com os participantes do Clube de Leitura, aquando do 41º Encontro Nacional de MGF, para uma conversa que se antevê emotiva e fascinante em torno do livro «Misericórdia».
Trata-se da história que a mãe da autora lhe pediu para escrever, o diário do último ano de vida de uma mulher que, através das suas palavras, nos dá a conhecer pormenores e pormaiores de gente suspensa num ambiente concentracionário. Confronta-nos com a dura realidade dos lares e residências seniores, onde se amontam todos os que classificamos por não ativos e assume-se como uma narrativa audaz, mas delicada, sobre o poder da memória e da ficção para combater o exílio. Esta obra valeu a Lídia Jorge o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Literário Urbano Tavares Rodrigues, o Prémio para Melhor Livro Lusófono publicado em França, atribuído pela redação da revista literária Transfuge e o Prémio Médicis Étranger, a mais relevante distinção francesa para literatura traduzida.
Para a médica dinamizadora da sessão, Ana Ferrão, mergulhar na realidade de Lídia Jorge é regressar a um território familiar: “li há vários anos algumas obras de Lídia Jorge, entre elas «O Dia dos Prodígios», «Notícia da Cidade Silvestre» e «A Costa dos Murmúrios». Recentemente, foi-me oferecido o livro escolhido para o Clube de Leitura, «Misericórdia», que me relembrou a qualidade da escrita de Lídia Jorge e a sua capacidade de nos transmitir a memória das coisas, do tempo e das pessoas. Uma escrita entre o fantástico, o imaginário e o realismo, que retrata as mudanças e conflitos de um país ou das suas personagens, muitas vezes mulheres, no seu contexto familiar e ao longo da vida”.
O último romance da escritora algarvia marcou, sem dúvida, Ana Ferrão, “tanto no aspeto pessoal, ao abordar o tema do envelhecimento e das soluções que a sociedade atual oferece às pessoas idosas, como no aspeto profissional, ao fazer uma ponte entre a experiência da Dona Alberti com os cuidados que lhe são prestados e a atuação em consulta aos nossos pacientes, independentemente da idade”.
Na perspetiva da dinamizadora da sessão, «Misericórdia» enquadra de forma perfeita a experiência humana no interior daquilo que convencionámos designar – com um toque administrativo e impessoal – por estruturas residenciais para pessoas idosas, um assunto que diz muito a quem cuida e aos médicos de família, em particular: “para quem ainda não leu o livro, essa é talvez a razão mais forte para o fazer. A vida, num local em que se espera pelo fim da vida, as relações com a família e entre os habitantes daquela pequena comunidade, a memória e, de forma magistral, a relação com as cuidadoras, tornam a leitura deste livro indispensável aos profissionais de saúde”.