MF são irrepetíveis e devem ousar o sonho

O 41º Encontro Nacional de MGF encerrou com chave de ouro, graças a uma conferência protagonizada por Sofia Baptista (professora no MEDCIDS – Departamento Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – FMUP – investigadora do Cintesis e autora do podcast Mala Médica) e José Luís Biscaia (médico de família aposentado, ex-subdiretor geral da Saúde e membro da Missão para os Cuidados de Saúde Primários). Em uníssono, deixaram uma mensagem positiva em tempos difíceis e incertos para a MGF, ao sublinharem que cada médico de família (MF) é único e irrepetível, que todos os colegas precisam de continuar a ter a ousadia de sonhar (com projetos, ideias e valores), sem medo de integrarem uma grande constelação de vontades.

José Luís Biscaia defendeu no encerramento do Encontro Nacional que cada MF, na sua singularidade e carácter único, precisa de encontrar o equilíbrio adequado entre vida profissional e pessoal e de se entregar a algo que está para além da Medicina, de forma a não se extinguir no «firmamento da prestação de cuidados»: “todos têm de encontrar uma atividade fora da sua existência profissional. Não interessa se pintam, têm uma horta comunitária ou fazem teatro. A segunda questão fundamental é construir laços de equipa”.

Já Sofia Baptista deixou conselhos pertinentes sobre como atuar quando as fases complicadas da rotina clínica ameaçam tudo engolir, ao descrever a sua conduta face às adversidades: “nesses dias, eu faço sempre o exercício de regressar ao momento do deslumbramento, do susto inicial”, referindo-se à etapa que marcou a sua entrada na especialidade e o enamoramento pela MGF.

Promoção de auto-cuidados entre os utentes é meio caminho andado para evitar o colapso do sistema de saúde

Extremamente pertinente, no último dia do Encontro Nacional, foi a mesa sobre a relevância dos auto-cuidados no nosso país, através da qual se percebeu que uma aposta sólida nesta componente, em paralelo com o aumento da literacia em saúde, pode fazer diminuir a procura dos serviços de saúde (e em particular dos serviços de urgência) e a pressão sobre os profissionais do setor, diminuindo ao mesmo tempo a ansiedade sentida pelos doentes e acelerando uma resposta válida às suas necessidades. Isto vale, em particular, para cidadãos com doenças crónicas ou mais idosos. “O facto de as pessoas terem alguns medicamentos não sujeitos a receita médica em casa pode ser algo de importante. Outro exemplo envolve os kits de primeiros socorros. Quantas pessoas têm um no domicílio? Se cortarem um dedo ou fizerem uma luxação, têm uma ligadura que os possa ajudar a conter o problema e sabem como utilizar a ligadura?”, indagou Ricardo Mexia, ex-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e atual presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, em Lisboa.

Nelson Pereira, diretor clínico para a área dos cuidados de saúde hospitalares da Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa e rosto da urgência do Hospital de São João durante a epidemia de Covid-19, não tem dúvidas de que em Portugal “estamos ainda numa fase muito incipiente no que respeita aos auto-cuidados e à nova forma de estar que estes impõem” e que, em última análise, para que os mesmos sejam eficazes “devem entrar numa lógica de intervenção modernizada, dentro de um contexto de inovação forte da Medicina. Por outro lado, a gestão da doença crónica tem de evoluir para a disponibilização de ferramentas que permitam uma interação virtual entre os diferentes agentes do processo terapêutico”, condição sem qual será quase impossível implementar auto-cuidados que façam sentido.

Ana Correia de Oliveira (diretora clínica para os CSP da ULS Santo António e consultora da RTP) salientou nesta sessão um ponto que muitas vezes passa despercebido nas discussões em torno dos auto-cuidados: “os auto-cuidados também nos envolvem a nós, profissionais de saúde, médicos de família. Para além de médicos, somos também pessoas e temos o dever de olhar para nós mesmos e de nos protegermos, de nos cuidarmos”.

O encerramento do 41º Encontro Nacional de MGF foi um momento de celebração do que melhor tem para a oferecer a especialidade em Portugal. Neste âmbito, foram entregues prémios e menções honrosas aos melhores trabalhos científicos apresentados em Albufeira, bem as distinções do Prémio de Fotografia do 41º ENMGF e as Bolsas de Apoio à Investigação AICIB/APMGF «Vende-nos o teu projeto». Aqui ficam as deliberações dos júris:

Comunicações

Relato de Caso

Menção Honrosa «DESAFIOS INESPERADOS: RECONHECER OS EFEITOS ADVERSOS GRAVES DOS ANTIDIABÉTICOS ORAIS»

Catarina Novais1, Ana Margarida Cruz2

1 USF Bom Porto, 2 USF Bom Porto

Prémio «DE REAÇÃO ADVERSA A NEOPLASIA: QUANDO A ICTERÍCIA É O PRIMEIRO SINAL PARA O DIAGNÓSTICO – RELATO DE CASO»

Joana Direito1, Francisco Castro Neves1, Isabel Almeida1, Ana Aveiro2, José Carlos Ribeiro1

1 USF Pessoas, 2 USF Condeixa

Melhoria Contínua da Qualidade

Prémio «REGISTOS CLÍNICOS NA VISITA DOMICILIÁRIA – UMA MELHORIA CONTÍNUA DE QUALIDADE»

Catarina Sousa Alves1, Margarida Silva Neto1, Sónia Morais Cardoso1

1USF Vil’Alva, ULS Médio Ave

Revisão de Tema

Prémio «PODE O MONTELUCASTE PROVOCAR ALTERAÇÕES PSIQUIÁTRICAS? UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA»

Carolina Roldão1, Joana Matos Silva2

1USF ARACETI, 2USF Araceti

Menção Honrosa «COMUNICAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS: QUAL O PAPEL DA TELEMEDICINA?»

Lutenio Junior1, Sara Pinho2, Ana Catarina Nascimento3, Anabela Pedrosa, Cátia Solis3

2 UCSP Figueira da Foz Urbana, 3 USF Coimbra Centro, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Menção Honrosa «“PÍLULA MASCULINA” – AINDA ESTE SÉCULO?»

Ana Sofia Monteiro1, Inês Rosendo1, Cátia Solis1, Ana Catarina Nascimento1, Patrícia Fragoso1

1 USF Coimbra Centro – ULS Coimbra

Investigação

Prémio -«I.CSP- STRATEGIES FOR THE PROMOTION OF RESEARCH IN PRIMARY HEALTH CARE IN PORTUGAL- A CROSS-SECTIONAL STUDY»

Margarida Gil Conde1, Beatriz Morgado2, Sandra Amaral3, Raquel Carmona Ramos1

1 FMUL, 2 ARSLVT, 3 AICIB

Menção Honrosa «IMPACTO DE ACTOS PRESCRITIVOS DE BAIXO VALOR E DA INOPERATIVIDADE DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO NA OCUPAÇÃO DO TEMPO CLÍNICO DOS MÉDICOS DE FAMÍLIA»

Ana Resende Mateus1, Mariana Ribeiro2

USF Horizonte2, ULS de Matosinhos1

Menção Honrosa «EXPERIÊNCIA E ATITUDES DOS PROFISSIONAIS DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS NO ÂMBITO DO TESTAMENTO VITAL – ESTUDO TRANSVERSAL»

Mariana Braga1, Ana Maria Alves2, Maria do Rosário Gonçalves3

1 USF Delta, ACES Lisboa Ocidental e Oeiras, 2 USF Marginal, ACES Cascais, 3 USF Monte da Lua, ACES Sintra

Menção Honrosa «GESTÃO DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÓNICA NOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – AVALIAÇÃO DA PERCEÇÃO DOS MÉDICOS DE FAMÍLIA QUANTO AOS CUIDADOS HABITUAIS»

Pedro Fonte1, Inês Domingues2, Rui Macedo3, Inês Ladeira Faculdade de4, Thys van der Molen5, Jaime Correia de Sousa6

1 USF do Minho, ULS de Braga; Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde/Escola de Medicina da Universidade do Minho, 2 USF do Minho, ULS de Braga, 3 ULS de Braga, 4 Medicina da Universidade do Porto, 5 International Primary Care Respiratory Group, 6 Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde/Escola de Medicina da Universidade do Minho

Relato de Prática

Menção Honrosa «PERCEÇÃO DOS UTENTES DO PAPEL DO MÉDICO DE FAMÍLIA – UMA SESSÃO DE EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE»

Catarina Cascais1, Carolina António2, Carolina Quental3, João Sobral4, Rafael Sequeira5

1 USF Corgo, 2 USF Alto da Maia, 3 USF Prelada, 4 USF Baltar, 5 USF Fénix

Prémio «PEQUENA CIRURGIA EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – AVALIAÇÃO DE UM PROJETO PILOTO»

Ana Catarina Fonseca1, Bárbara Gameiro1, Inês Ferreira1, Joaquim Filipe Sala1, Diogo Santos Costa1

1 USF Serpa Pinto

Posters

Qualidade

Prémio «MELHORIA CONTÍNUA DA QUALIDADE DA INTERVENÇÃO BREVE E MUITO BREVE NO TABAGISMO»

Sofia Morgado Oliveira1, Daniela Pinto1, Rita Chaves1

1 USF Leiria Nascente

Relato de Caso

Prémio «QUANDO A COLOCAÇÃO DE UM DIU SE TORNA UM EVENTO ADVERSO»

Inês Garcia Moreira1, Beatriz Henriques Antunes1, Cátia Cruz1, Lígia Martins1, Vera Gomes1

1 USF Vouzela

Revisão de Tema

Prémio «A EFICÁCIA E SEGURANÇA DO USO DE PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO E NA PREVENÇÃO DAS INFEÇÕES VAGINAIS: UMA REVISÃO BASEADA NA EVIDÊNCIA»

Avelino Joaquim Gomes Tavares1

1 Unidade Local de Saúde do Alto Minho – USF Vale do Âncora

Relato de Prática

Menção Honrosa «DESCOMPLICAR A SAÚDE – UM RELATO DE PRÁTICA DO I CICLO DE PALESTRAS EM SAÚDE NA UNIVERSIDADE SÉNIOR DE LOULÉ»

Sara Cardoso Nunes1, Adriana Justo Correia2, Lenka Krátka1, Soraia Monteiro2

1 USF Lauroé, 2 USF SerraMar

Bolsas de Apoio à Investigação AICIB/APMGF

 

Bolsa 3000€ – «Pode um modelo de Inteligência Artificial melhorar a codificação ICPC-2 em consulta?» – Investigador Principal: Diogo Alexandre Antunes Carapito

Bolsa 3000€ – «Traduzir e validar para a população portuguesa a ASRS-5 – Escala de autoavaliação de 6 itens da OMS para rastreio da Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção no adulto» – Investigador Principal: Ana Sofia Torres Baptista

Bolsa 3000€ – «Qual o conhecimento sobre diretivas antecipadas de vontade e barreiras identificadas à sua realização em adultos portugueses?» – Investigador Principal: Inês Mesquita Caetano

Bolsa 1000€ – «O seguimento dos utentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) numa Unidade de Saúde Familiar (USF) do Norte de Portugal encontra-se em concordância com as normas de orientação clínica atuais?» – Investigador Principal: Maria da Conceição Coelho Moreira

Bolsa 1000€ – «Capacitar os utentes e os profissionais de saúde para o uso da aplicação SNS24/website Portal do Utente reduz os pedidos de prescrição de medicação crónica duplicados?» – Investigador Principal: Ana Rita Martins Queirós

Prémio de Fotografia 41º ENMGF

 

Prémio – Miguel Cachinho Henriques, «Manhã de Sábado»

Menção Honrosa – Catarina Matias, «Bonança»

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