Príncipe de Elsinore, prisioneiro da mente

Edificação majestosa e dádiva para o teatro de William Shakespeare, «Hamlet» encerra a história de um herdeiro real que enfrenta o turbilhão de emoções e dúvidas existenciais nascidas da revelação fantasmagórica do assassinato de seu pai pelo tio, Cláudio. Na fictícia residência da monarquia dinamarquesa (Castelo de Elsinore), consumado pela dor e dever de vingança, Hamlet faz-se passar por louco enquanto pondera sobre a vida, a morte e a incerteza da ação, em fabulosos solilóquios. Pelo meio, o leitor/espectador é confrontado ainda com a intensa relação entre Hamlet e Ofélia, duas almas que se amam mas se veem condenadas a um fim trágico. A mais representada das peças de Shakespeare, terá sido criada provavelmente entre 1599 e 1602, de acordo com os especialistas. «Hamlet» constituirá o pano de fundo para a próxima sessão do Clube de Leitura APMGF, agendada para 27 de maio, pelas 21h00 e que terá como médico dinamizador Nelson Rodrigues. A participação no Clube de Leitura está sujeita a inscrição prévia, é gratuita para os sócios da APMGF e tem um custo de 35 euros para não sócios (valor que permite participar no ciclo integral). No final do ciclo, todos os participantes do Clube de Leitura que tenham assistido às sessões em direto receberão um diploma de participação entregue pela APMGF.

«Hamlet» é uma peça de enorme fôlego, explorando temas como a insídia, o castigo imposto pelo destino, a paixão negada ou a fragilidade do ser humano na sua componente mental. Através do conflito interno de Hamlet, Shakespeare mergulha na condição humana, deixando o público a ponderar sobre a natureza da justiça e o alto custo da inação. Hamlet questiona tudo, desde a veracidade da aparição do fantasma até a moralidade da vingança. Essa descrença paralisa-o e impele-o a tomar decisões precipitadas.

Nelson Rodrigues justifica a escolha desta narrativa por representar, em parte, o regresso a outro grande vulto das letras que já passou pelo Clube de Leitura APMGF: “é uma das grandes obras do Shakespeare, um autor que muito aprecio e dos maiores da literatura universal. Creio que atingiu uma profundidade e uma mestria muito difíceis de superar. Também a escolhi porque reli o livro com a tradução da Sophia de Mello Breyner, após se ter analisado, no Clube da Leitura, algumas obras desta autora. Achei que seria interessante para os membros do Clube voltarem à Sophia, numa obra do Shakespeare”.

Para o dinamizador estão reunidos todos os ingredientes para um serão memorável, até porque “Shakespeare é um caracterizador dos vários perfis do ser humano. Descreve muito bem os seus traços e emoções. Por exemplo o amor, no Romeu e Julieta, o ciúme, a intriga no Otelo, a ganância, a fome de poder e remorso em Macbeth, a injustiça, a infâmia e ruína em Tito Andrônico e Rei Lear. Em Hamlet, o amor filial, a traição e a vingança”.

Foram já publicados artigos em revistas científicas de renome que se debruçam sobre a hipotética perturbação depressiva de Hamlet, que ajudaria a contextualizar a vontade vacilante do anti-herói. Esta questão, relacionada com a saúde mental do personagem, é em si mesma motivo de interesse particular para quem olha de fora para dentro. “A dimensão psicológica do Hamlet é muito vasta, complexa e multifacetada. A sua vivência de vários sentimentos – por vezes antagónicos – talvez seja isso que o leve a adiar a vingança, ou seja, o tempo necessário para ele resolver o seu «Ser ou não ser, eis a questão»? Hamlet permite-se ser analisado por múltiplos ângulos. Daí a riqueza da obra”, defende Nelson Rodrigues.

 

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