No decurso do 41º Encontro Nacional de MGF, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB) promoveram mais uma sessão «Vende-nos o teu projeto», durante a qual atribuíram três bolsas de apoio à investigação no valor de 3.000 euros e duas bolsas no valor de mil euros. As bolsas em causa nascem de uma parceria criada entre as duas entidades e têm como finalidade essencial incrementar a investigação realizada em sede de cuidados de saúde primários e MGF e aproximar a academia ao contexto da prática nas unidades de saúde.
As três bolsas no valor de 3 mil euros foram entregues aos projetos «Pode um modelo de Inteligência Artificial melhorar a codificação ICPC-2 em consulta?», do investigador Diogo Alexandre Antunes Carapito, «Traduzir e validar para a população portuguesa a ASRS-5 – Escala de autoavaliação de 6 itens da OMS para rastreio da Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção no adulto», da equipa liderada pela investigadora principal Ana Sofia Baptista e «Qual o conhecimento sobre diretivas antecipadas de vontade e barreiras identificadas à sua realização em adultos portugueses?», cujo investigador principal é Inês Mesquita Caetano. A mentoria oferecida a estes três projetos – a qual acresce ao valor pecuniário das bolsas – ficará a cargo, respetivamente, de Sandra Amaral (AICIB), Luiz Miguel Santiago (APMGF) e Armando Brito de Sá (APMGF).
Já as bolsas no valor de mil euros beneficiarão o desenvolvimento dos projetos «Capacitar os utentes e os profissionais de saúde para o uso da aplicação SNS24/website Portal do Utente reduz os pedidos de prescrição de medicação crónica duplicados?» – da equipa liderada pela investigadora Ana Rita Queirós – e «O seguimento dos utentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) numa Unidade de Saúde Familiar (USF) do Norte de Portugal encontra-se em concordância com as normas de orientação clínica atuais?», trabalho que tem como investigador principal Maria da Conceição Moreira. A mentoria destes dois últimos projetos será exercida por Ana Raquel Ramos, do Departamento de Investigação da APMGF.
Sofia Baptista integra uma das equipas que será agora apoiada pelas Bolsas AICIB/APMGF e explica aquilo que o projeto submetido pretende alcançar a breve trecho e os efeitos favoráveis que terá, previsivelmente, em termos de saúde pública: “a Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) pode ter um impacto significativo na vida adulta, quer em termos pessoais, quer profissionais. O diagnóstico de PHDA no adulto pode ser particularmente desafiante, levando a que muitos pacientes não recebam tratamento e acompanhamento adequados e, por consequência, não atinjam o seu potencial completo. Por outro lado, não existe nenhuma escala de autoavaliação de PHDA validada para a população portuguesa e de acordo com os critérios de diagnóstico DSM-5, que permita a sua utilização como ferramenta de rastreio (o termo mais correto será deteção) em contexto comunitário e de cuidados de saúde primários. Assim, a nossa equipa de investigação pretende traduzir e validar para a população portuguesa a ASRS-5 – Escala de autoavaliação de 6 itens da OMS para rastreio da Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção no adulto”.
Por seu turno, Ana Rita Queirós acredita que o suporte agora oferecido na órbita destas bolsas se justifica pelo problema sério que o seu projeto de investigação procura ajudar a resolver: “estudos de 2019 e 2014 demonstraram, respetivamente, que 17% dos médicos de família se encontravam em burnout e 33,4% da carga laboral destes profissionais era dedicada a tarefas extra-consulta. Assim, é urgente aplicar estratégias para uma gestão mais eficiente da carga de trabalho das equipas de saúde, diminuindo o sobre-uso desnecessário de recursos. Neste contexto surge o nosso projeto «Prescrições em Dose Dupla», que visa capacitar utentes e profissionais de saúde para a utilização da aplicação SNS24 e website Portal do Utente. O objetivo será reduzir os pedidos de prescrição de medicação crónica duplicados (realizados apesar da existência de receitas ainda válidas), através de estratégias como sessões informativas e distribuição de material educativo (folhetos e vídeo). Ambicionamos capacitar os utentes para uma gestão mais eficaz da sua medicação crónica e, simultaneamente, aliviar a carga de trabalho dos profissionais de saúde, promovendo a prevenção quinquenária”. Ana Rita Queirós não duvida também que a bolsa fará toda a diferença para o grupo de trabalho: “estamos muito gratas e honradas pelo apoio concedido pela Bolsa da AICIB/APMGF, que consideramos fundamental para a implementação e divulgação bem-sucedida desta iniciativa. Esperamos que esta colaboração tenha um impacto positivo na qualidade dos cuidados prestados aos utentes, contribuindo assim para um sistema de saúde mais eficaz e sustentável”.
Maria da Conceição Moreira e restante equipa apresentaram um projeto que tem como intuito conhecer a realidade do seguimento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) numa unidade de saúde familiar da Região Norte de Portugal, através da aplicação de uma escala de sua autoria. Na perspetiva da investigadora, será possível “deste modo enriquecer o conhecimento atual sobre a gestão da DPOC e adotar estratégias que otimizem a qualidade dos cuidados de saúde prestados a estes utentes. O apoio contemplado na Bolsa AICIB/APMGF não só permitirá aprimorar a implementação e execução deste projeto, como também contribuirá para a ampla promoção e divulgação dos resultados obtidos”.