Entre os dias 28 de Junho e 1 de Julho tive o prazer de participar na 27ª Conferência da WONCA Europa em Londres, a primeira edição presencial da conferência da WONCA desde o início da pandemia, coincidindo com a minha primeira experiência na mesma. Esta participação permitiu-me ter oportunidade de contactar com médicos de família e profissionais de saúde de todo o mundo, contribuindo para ter uma maior perceção da prática da Medicina Geral e Familiar (MGF) noutros países e para partilhar experiências.
Este ano o tema geral da conferência foi “inovar a medicina familiar para um futuro sustentável”, dividindo-se em vários subtemas. Gostaria de destacar uma das palestras cujo subtema era educação e que se dividiu em várias apresentações com participação de colegas de diversos países. A primeira sessão, apresentada por uma médica do Reino Unido, foi sobre a formação pré-graduada em MGF, tendo realizado um estudo sobre o que valorizavam os estudantes no seu estágio de MGF, com intuito de mobilizar os médicos para esta especialidade, dada a necessidade crescente de médicos de família. A sessão seguinte, também de um colega do Reino Unido, expôs técnicas para ajudar orientadores do internato de MGF. A ideia surgiu tendo em conta as dificuldades que existem no recrutamento e fixação de tutores de MGF. A terceira sessão foi apresentada por uma colega de Israel, tendo como tema “Criar um programa de formação de lifestyle medicine”, sendo que se trata de uma especialidade que está a emergir globalmente, sustentada nas intervenções de estilo de vida baseadas na evidência com o objetivo não só de prevenir, mas também de tratar doenças crónicas, tendo incidido sobre a necessidade de formação nesta área, quer a nível do internato de MGF, quer na formação pré-graduada, sendo que atualmente ainda é escassa.
Finalmente, a última sessão, intitulada “Learning tactics from the military: training decision making in complexity and prioritisation in General Practice” que destacou a necessidade de treino dos médicos de família para lidar com a complexidade. O médico não tem formação para lidar com a incerteza, no entanto a nível militar e empresarial existe treino para decisões táticas. Considerando o aumento de doentes complexos no nosso dia a dia, que exigem decisões complicadas, nesta sessão este tipo de treino foi apontado como uma possível solução para colmatar tal necessidade na formação dos médicos.
Gostaria ainda de salientar o workshop orientado pelo Professor Carlos Martins intitulado “Tools to practice Evidence Based Medicine”, que contou com a participação de colegas de vários países, em que se falou, tal como o nome indica, sobre medicina baseada na evidência – os principais conceitos, prós e contras e como usar as ferramentas corretas na prestação de cuidados. Foi dividido numa parte expositiva e noutra interativa com um caso clínico, onde se colocaram em prática as ferramentas faladas e foram partilhados os instrumentos usados por colegas de diversas nacionalidades na prática clínica. Neste espaço de aprendizagem e discussão ficou evidente que todos caminhamos no mesmo sentido, numa vontade de praticar uma medicina baseada na melhor evidência científica, transversal a colegas de todo o mundo. Realço também a partilha das diferentes experiências durante a pandemia COVID19, em que a dificuldade em gerir a prática na melhor evidência científica foi uma dificuldade generalizada.
A escolha da partilha destas palestras em particular prende-se com o facto de permitirem ter uma perceção do que é diferente e do que é semelhante em MGF entre países, a vários níveis, quer a nível pré-graduado e nível pós-graduado, quer como interno ou especialista. As dificuldades sentidas e os objetivos de MGF são globais e transversais, sendo a conferência WONCA uma oportunidade de conhecer, discutir e posteriormente implementar mudanças na nossa prática clínica.