36º Encontro Nacional de MGF
Durante o segundo dia do 36º Encontro Nacional foi apresentado à comunidade da MGF o Projeto Beta, desenvolvido pela APMGF e que representa uma evolução da sua estratégia para redefinição de uma nova métrica para a lista de utentes dos MF. Um projeto piloto que a Associação quer ver concretizado num número limitado de unidades no terreno e que visa apoiar a abertura de candidaturas a USF protegidas, em unidades que cumpram um ou vários destes critérios: tenham utentes sem médico de família, utentes inscritos em médicos contratados ou utentes inscritos em médicos de família com idade igual ou superior a 66 anos.
A ideia foi muito bem acolhida em Braga e, de acordo com Rui Nogueira, presidente da APMGF, ela dá uma resposta eficaz num momento oportuno: “com os recursos médicos de que dispomos hoje, é impossível constituir novas USF com base nos moldes tradicionais e nos limites mínimos exigidos, em particular em locais mais isolados, em extensões, etc. Talvez seja por isso que o Ministério da Saúde apenas prevê a abertura de 20 novas USF em 2019. De facto, com esta realidade e estas regras, não podemos continuar a fazer da mesma «sopa»”.
José Luís Biscaia, membro da Coordenação Nacional para a Reforma dos CSP, alertou contudo para a relevância de circunscrever bem a forma de construir este novo modelo de lista de utentes: “é fundamental conceber e definir um novo modelo de lista de utentes e de carga de trabalho para o médico de família. Mas tal tem de ser construído sobretudo a partir da carga de doença identificada, e não através do contexto de prática, que é muito variável e que está em permanente mudança”.
Patologias do sono em destaque no Dia Mundial do Sono
Precisamente no Dia Mundial do Sono, 15 de março, a APMGF organizou em parceria com a Associação Portuguesa do Sono (APS) uma sessão centrada nas patologias e problemáticas do sono mais prevalentes, mas com especial enfoque na gestão da apneia do sono e na redução do consumo de benzodiazepinas (BZD). “ Os portugueses dormem pouco e mal”, sublinha o presidente da APS. Joaquim Moita reconhece que os próprios médicos, para poderem intervir nos seus doentes têm de começar como classe a corrigir os seus hábitos de sono, “não só com mudanças de comportamento individuais, mas também através de reivindicações coletivas, a fim de consagrarem turnos mais razoáveis”.
Sobre o uso exagerado de BZD e os desafios que tal panorama coloca aos médicos de família, Joaquim Moita não tem dúvidas de que se trata de um problema complexo e espinhoso, mas ainda assim veio a Braga, em conjunto com a psiquiatra Joana Serra e a médica de família Cláudia Vicente, mostrar que existem saídas a explorar com o doente: “sabemos que as BZD, após três a quatro semanas, apenas dão origem a um sono ligeiro, não a um sono repousado. Não estão a fazer nada de útil no plano terapêutico do doente. Todavia, existem alternativas medicamentosas, algumas para fazer o desmame inicial das BZD e outras, muito eficazes e seguras, para estimular o sono. Para além dos fármacos, há toda uma área que está em desenvolvimento em Portugal, que passa pela intervenção dos psicólogos e da aplicação de técnicas como a terapia cognitivo-comportamental, que podem ser extremamente úteis no tratamento da insónia. É certo que os psicólogos podem não abundar no SNS, mas se nós não os pedirmos e não mostrarmos que são essenciais, nunca os teremos a trabalhar connosco”.