Encontro do Alto Minho alcança fasquia simbólica das 25 edições e coloca em evidência a necessidade de cuidar de quem cuida

O 25º Encontro de Medicina Geral e Familiar do Alto Minho, realizado entre os dias 29 e 30 de maio pela Delegação Distrital de Viana do Castelo da APMGF, reuniu cerca de 140 inscritos na Escola Secundária de Ponte de Lima sob o mote «A arte de cuidar».

No encerramento da iniciativa, o presidente da APMGF Nuno Jacinto salientou que completar vinte e cinco edições deste Encontro do Alto Minho “não é fácil e representa uma prova de dedicação e resiliência. A força da APMGF é também a força das suas delegações e dos seus grupos de estudos. Foi uma honra voltar ao Alto Minho e a Ponte de Lima, sobretudo para uma iniciativa que contou com um programa de luxo”. O dirigente associativo recordou, aliás, que no último dia de trabalhos se falou de temas que estão bem na ordem do dia para o sistema de saúde e para a MGF: “falou-se de comunicação, aqui sobretudo na comunicação entre médico e doente, embora seja igualmente relevante a comunicação entre pares ou com outros profissionais nas nossas unidades, com os diretores clínicos e conselhos de administração de ULS, com outras entidades ou com a tutela. É esse também o papel da APMGF, comunicar e ser a voz dos médicos de família e é isso que pretendemos fazer em cada momento”.

Por outro lado, Nuno Jacinto frisou que foi bem abordada no Encontro a importância de cuidar de quem cuida: “não estamos apenas a referir-nos aos acidentes de trabalho e outras questões deste tipo, mas também à urgência de valorizarmos e respeitarmos os médicos de família. Este tem sido um ponto de honra para a APMGF, que vezes sem conta tem referido em praça pública que ninguém sai de onde está bem e que se valorizarmos os médicos de família (todos nós sem exceção, de cima a baixo), certamente teremos mais destes profissionais motivados a trabalhar no SNS ou em qualquer outro local em prol das nossas populações”.

Nuno Jacinto mostrou-se ainda agradado pelo facto do evento ter terminado com chave de ouro através da conferência de encerramento apresentada pelo médico de Saúde Pública Hugo Monteiro e dedicada às aplicações e desafios da Inteligência Artificial (IA) na Saúde, em linha com visão de futuro que a Associação sempre manteve. Segundo revelou Hugo Monteiro, a IA não necessita de ser encarada como uma ameaça ou um estorvo e, desde que devidamente enquadrada e potenciada, pode apresentar-se como um recurso imprescindível para os médicos: “é óbvio que a IA é um agente de apoio ao médico, não um substituto, que aumentará as capacidades de decisão eficiente. Basta ver, inclusive, como os nossos colegas das áreas de diagnóstico usam estas tecnologias há alguns anos e como nos habituámos a confiar piamente em tais diagnósticos”.

Na perspetiva de Hugo Monteiro é, sem dúvida, fundamental que em simultâneo com o desenvolvimento da IA “se continue a proteger a relação médico/doente” e se invista de forma crescente na tarefa de “medir o impacto da IA e escalar o seu uso de acordo com essa avaliação. Um dos setores onde tal implementação pode ser ideal, em qualquer unidade de saúde, é o da triagem inteligente, que pode começar como um pequeno projeto de serviço. Se hoje pedirmos ao ChatGPT (ou qualquer outra solução do mercado) para nos desenhar um aplicativo que entre no sistema e faça a triagem de casos, ele conseguirá desenhar essa programação, sem a necessidade de apoio de engenheiros especializados. Com isto, estamos a democratizar o acesso a ferramentas que podem tornar realidade a nossa vontade clínica”. O especialista em Saúde Pública não deixou de ressalvar em Ponte de Lima que a IA encerra em si a capacidade de também “ajudar os doentes a tomarem as decisões mais inteligentes para a sua saúde”.

Sofia Azevedo, delegada distrital da APMGF em Viana do Castelo e membro da Comissão Organizadora e Científica, acredita que “tudo aquilo que os participantes neste Encontro poderão fazer e experimentar ao longo de dois dias pode-se resumir na palavra compaixão, ou a arte de cuidar, que vai muito para além da empatia. Esta é, de facto, uma lição e um mote que levamos daqui e que devemos transportar para o nosso trabalho diário”.

Já o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, na sua passagem pelo evento declarou por seu turno que a MGF permanece a especialidade clínica que, por excelência, “não olha para doença mas antes para a pessoa, no seu todo. Não conheço outra especialidade que represente tão bem aquilo que é a essência da Medicina”.

Reconhecendo que apesar do trajeto magnifico, dos progressos na formação e capacitação dos seus representantes e do crescimento assinalável da MGF nos últimos quarenta anos os tempos são difíceis e de acelerada transformação, Carlos Cortes lançou um repto aos médicos de família e internos da especialidade de MGF presentes neste Encontro: “julgo que desde há dois ou três anos atrás temos trilhado um caminho errado, já que aquilo que foi conseguido pela MGF e pela reforma dos CSP está neste momento posto em causa. Em muitos centros de saúde que tive a oportunidade de visitar recentemente encontrei amargura e preocupação, pela circunstância de a MGF estar a perder a sua identidade. Por isso, peço-vos que lutem contra isto e que não se deixem esmagar pelo hospitalocentrismo ou urgenciocentrismo, para ser mais preciso. O hospital tem muito a aprender com aquilo que a MGF tem feito em todos os domínios, não só nos cuidados diretos às pessoas, mas também no desenvolvimento da própria especialidade em si”.

Prémios

 

Comunicação Oral – Investigação

Menção Honrosa

GESTÃO DA PERTURBAÇÃO DEPRESSIVA – UM ESTUDO DESCRITO NUMA USF, NO NORTE DE PORTUGAL

Susana Couto1, Ana Catarina Martins2

1 USF Freamunde, 2 USF Freamunde

Prémio

CAPACITAÇÃO APÓS CONSULTA EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS: COMO A AVALIAM UTENTES E MÉDICOS?

Isabel Inês Loureiro1, Andreia Sofia Teixeira2, Mariana Fleming Torrinha3, Luiz Miguel Santiago4, Ana Sofia Baptista2

1 ULS Póvoa de Varzim/Vila do Conde – USF Santa Clara, 2 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), 3 ULS Póvoa de Varzim/Vila do Conde – USF Eça de Queirós, 4 Centro de investigação da Universidade de Coimbra

Comunicação Oral – Relato de Caso

Menção Honrosa

QUANDO A DIARREIA É SINAL DE OBSTIPAÇÃO

Beatriz Vaz1, Jacinta Pereira1, Inês Lima1, Nicole Lage1

1 USF Lethes

Prémio

SÍNDROME DE ERASMUS: DA GESTÃO DE CUIDADOS À DOLÊNCIA – UM RELATO DE CASO

Sara Guedes1, Diana Martins1, Sofia Campos1, Joana Ferreira Alves1, Isabel L. Ribeiro1

1 USF Nova Via – ULSGE

Comunicação Oral – Relato de Prática

Menção Honrosa

CESSAÇÃO TABÁGICA EM CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS – UM PROJETO DE INTERVENÇÃO

Joana Raquel Rocha Barreiros1, Ana Cristina Carvalho Figueiras1, Catarina Matos de Oliveira1

1 USF Cuidarte- ULSAM

Poster – Relato de Caso

Prémio
NA PISTA DA CÓLICA RENAL: CARCINOMA UROTELIAL COMO PARTE DE UM CARCINOMA HEREDITÁRIO

Tomás Rocha Martins1, Ana Luísa Amorim1, Luciana Oliveira1, Sara Fernandes Viana1, Cátia Vieira Lopes1

1 ULSAM

Poster – Revisão de Tema

Prémio

DELÍRIO, UM DESAFIO DO DIAGNÓSTICO À TERAPÊUTICA

Inês Nogueira Lima1, Jacinta Pereira1, Isabel Chão2

1 USF Lethes, 2 USF Gil Eanes

 

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