Carlos Franclim Moreira da Silva (médico de família na Unidade Local de Saúde de Matosinhos e Docente Convidado do Departamento MEDCIDS da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – FMUP) é o mais recente especialista em MGF a concluir provas de doutoramento, na circunstância na FMUP, apresentando a tese «Adolescents and young adult´s health promotion».
O júri das provas, realizadas no passado dia 30 de maio, foi presidido por Cristina Costa Santos (FMUP), enquanto Tiago Maricoto (Universidade da Beira Interior) e Cláudia Bulhões (Escola de Medicina da Universidade do Minho) desempenharam a função de arguentes. Participaram ainda como elementos do júri Irene Carvalho, Paulo Santos (orientador da tese) e Luísa Barbosa de Sá (todos da FMUP).
Este doutoramento esteve ancorado em vários estudos transversais observacionais, entre os quais se conta o estudo Morpheus, que teve como alvo os jovens do concelho de Paredes (746 participantes), investigando determinantes sociodemográficas e comportamentais potencialmente impactantes na saúde. Um estudo complementar analisou as perspetivas e expectativas dos jovens a residirem em casas de acolhimento no Norte de Portugal no que se referia à temática dos serviços de saúde (571 participantes). No contexto da pandemia COVID-19, foram avaliados os inquéritos de 3.898 jovens a residir em Portugal, explorando as suas preocupações, comportamentos e preferências no que se referia a informações sobre saúde. A recolha de dados utilizou questionários auto-administrados que exploraram características sociodemográficas, comportamentos de saúde e perceções. Foram realizadas análises estatísticas descritivas e multivariadas para identificar padrões e associações.
Os resultados revelaram a presença de comportamentos não saudáveis, como inatividade física, erros alimentares e iniciação precoce ao consumo de tabaco e álcool, colocando também em evidência que os pais e amigos são os principais conselheiros dos jovens em temáticas de saúde. O estudo Morpheus, por seu turno, relevou determinantes sociais e individuais que influenciam significativamente o comportamento juvenil, nomeadamente o sexo, o estado civil, a escolaridade, a condição de desemprego, a espiritualidade, a fonte de rendimento familiar e as perceções dos jovens sobre a sua saúde global e a sua aparência física. O estudo dos jovens vulneráveis, a residir em casas de acolhimento, revelou a preponderância atribuída às características dos profissionais de saúde, no contexto das preferências expressas no âmbito dos serviços de saúde, sobretudo no domínio da sexualidade. Durante a pandemia de COVID-19, os níveis de stress e as preocupações com a saúde pessoal e comunitária foram expressivos, sendo a idade, o género e as fontes de informação determinantes significativos. Os jovens atribuíram credibilidade às informações veiculadas pelas instituições com competências oficiais no domínio da saúde, no entanto, as referidas informações foram associadas a stress.
O investigador e agora doutorado acredita que este trabalho suporta a necessidade de implementação de estratégias integradas e multidisciplinares de promoção da saúde, direcionadas a determinantes-chave, como atividade física, alimentação, consumo de substâncias psicoativas e saúde mental. As recomendações compreendem a melhoria do acesso a serviços de saúde adaptados aos jovens, o reforço de programas comunitários de educação para a saúde e o reforço de recursos para melhorar a literacia em saúde.
De acordo com Carlos Franclim, existem razões de fundo que ajudam a explicar por que decidiu eleger esta área clínica e de investigação como pano de fundo para o seu doutoramento: “o meu percurso profissional clínico trouxe-me muitas questões no âmbito da medicina preventiva e das particularidades dos adolescentes e jovens adultos. Trabalho nos cuidados de saúde primários e presto atividade assistencial aos estudantes da Universidade do Porto. A minha trajetória na comunidade trouxe-me outras tantas. Exerci funções nas autarquias locais e no associativismo juvenil. No ano de 2022, participei num projeto de formação de professores responsáveis pela dinamização da valência de educação sexual nas respetivas escolas”.
Por outro lado, existem justificações mais profundas e pessoais que nos ajudam a entender a escolha de Carlos Franclim: “a minha vida pessoal aguçou a curiosidade pela investigação dos comportamentos juvenis e as oportunidades de promoção de saúde. Recordei a coleção de livros infanto-juvenil Triângulo Jota, de Álvaro Magalhães. Ter assistido aos concertos e aos universos de Björk, Rita Vian, Arca, Marie Davidson, Manuela Azevedo e os Clã, Karen O e os Yeah Yeah Yeahs, Ana Lua Caiano, Manuel Cruz em todas as suas vidas, transportou-me indubitavelmente para um lugar de reflexão extensa sobre a condição humana e os comportamentos. Foi igualmente impactante ter próximo os meus sobrinhos e afilhados, pessoas muito importantes para mim, que são adolescentes e jovens adultos”
O novo doutorado da FMUP está ainda convicto que este passo na sua carreira e toda a investigação que o sustentou marcará seguramente os anos vindouros e a sua forma de atuar: “com o trabalho desenvolvido naturalmente melhorei as minhas competências no âmbito da investigação científica, algo que será útil no trabalho que já desenvolvo na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Por outro lado, o conhecimento adquirido indubitavelmente melhorou as minhas competências clínicas, atualização sobre os estilos de vida dos jovens, as suas expectativas, desenvolvendo a capacidade de empatia e a comunicação. Tal terá implicações práticas na atividade clínica no centro de saúde e no acompanhamento dos estudantes da Universidade do Porto”.