Agir, agora, para travar o aumento da patologia respiratória associada à poluição

Mário Morais de Almeida, presidente da World Allergy Organization e amigo de longa data do GRESP, foi convidado a realizar a conferência de abertura das 11ªs Jornadas do GRESP, tendo decido falar sobre o impacto das alterações climáticas e das transformações do nosso planeta sobre a saúde humana e, em particular, sobre as doenças respiratórias. Sempre com referências importantes ao caso da primeira morte oficialmente registada no mundo como causada por poluição associada a um caso grave de asma, a da jovem inglesa Ella Adoo-Kisi-Debrah, em 2013. O especialista recordou que existe um número recorde “ de novos casos de asma em idade pediátrica associados à exposição a dióxido de azoto”, entre outras situações de patologia diretamente ligadas ao aumento de partículas, alérgenos e poluentes e que não é possível manter a atitude do passado: “não podemos continuar a insistir na teoria que temos de controlar melhor estes casos do ponto de vista clínico… Não, o que temos de fazer é reduzir a exposição aos fatores de poluição. Não adianta continuarmos mais dez a quinze anos a realizar estudos, é necessário atuar agora, até porque temos dados sólidos sobre os efeitos sobretudo na população pediátrica em países do Médio Oriente, da Europa, China, Índia, etc, locais onde observamos que o aumento de casos de asma infantil está diretamente ligado à exposição a poluentes”.

Nos seus consultórios, também há muito que os médicos podem fazer para contribuir positivamente para esta mudança, como recordou Mário Morais de Almeida, a começar desde logo pela escolha dos inaladores que recomendam aos seus doentes: “podemos escolher inaladores com consequências e uma pegada de carbono completamente diferentes. Se optarmos por um inalador de salbutamol com 200 doses teremos uma pegada de carbono equivalente a ir do Porto até Lisboa de carro, mas se escolhermos um inalador de pó seco, iremos apenas da Avenida Boavista até ao Estádio do Dragão!”.

As profundas alterações climáticas desencadeadas pela humanidade têm criado “também níveis muito mais elevados de pólens em circulação, que surgem mais precocemente e ficam muito mais tempo no ambiente, com estações polínicas mais prolongadas e intensas”.

Com vista a corrigir a rota e limitar os dados provocados em termos de patologia respiratória por todas estas alterações no mundo em que vivemos há, todavia, muito que pode ser feito. O alergologista adiantou alguns passos vitais nesse trajeto de melhoria: “devemos todos contribuir para o esforço de reduzir emissões de poluentes e dos fatores ambientais que prejudicam a saúde coletiva e neste aspeto a educação da população é essencial, algo que também nos cabe a nós realizar. Por outro lado, os espaços verdes são muito importantes e podemos enquanto indivíduos colaborar com coisas tão simples quanto colocar algumas plantas na varanda ou criar jardins. Se todos os contributos se acumularem teremos mais plantas e árvores que contribuirão para reduzir a desertificação, aumentar a biodiversidade, eliminar mais poluentes da atmosfera, reduzir a temperatura global e também dessa forma desincentivar o uso aparelhos de ar condicionado, que podem ser prejudiciais em termos de saúde respiratória”.

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