Na sequência da cada vez maior influência do poder local na gestão diária das unidades de cuidados de saúde primários (CSP) torna-se necessário discutir o que podem e devem fazer, de facto, as autarquias para melhorar a qualidade da prestação de cuidados de saúde. Essa foi a finalidade do seminário organizado pela Câmara Municipal de Alenquer, intitulado «Desafios e Oportunidades num Contexto de uma Maior Intervenção Municipal», no qual tomaram parte figuras de relevo da área dos CSP, como seja o presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (Luís Pisco) e o presidente do Colégio de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos, Paulo Santos.
Durante o seminário, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) contextualizou “a situação atual dos médicos de família – MF – nomeadamente a redução da sua atividade registada durante a pandemia, a recuperação da atividade que se está a verificar, bem como o número de utentes sem MF, a evolução do número de médicos e de médicos internos da especialidade ao longo dos anos e o porquê de termos cada vez mais médicos a sair do SNS”. Sobre os desafios do futuro, Nuno Jacinto destacou a importância de “incentivar os profissionais a ficarem dentro do SNS, percebermos todos como podemos obter melhores resultados em saúde nos CSP e garantir a verdadeira centralidade de cuidados no cidadão e não no sistema ou nos profissionais”. O dirigente associativo deixou ainda bem presente que para os CSP serem mais eficazes na sua missão se tornam indispensáveis ingredientes como “autonomia reforçada dos ACeS e das equipas de saúde, condições físicas, técnicas e tecnológicas adequadas, bem como uma dimensão razoável da lista de utentes dos MF”.
Já a propósito deste tipo de iniciativas de debate, desencadeadas pelas comunidades e autarquias em torno da evolução dos serviços de saúde local e do seu papel nesta dimensão, Nuno Jacinto assegura que “independentemente das questões ligadas ao processo de municipalização da saúde e de como este vai avançando, as autarquias têm sempre um papel de apoio à atividade dos CSP e é fundamental que reflitam sobre tudo isto. Viu-se, aliás, quão relevante é tal papel nos últimos tempos, com a vacinação contra a Covid-19 e a implementação das Áreas Dedicadas para Doentes Respiratórios (ADR). Termos autarquias informadas, que entendam como funciona o sistema e como podem ajudar a colmatar algumas das falhas que existem é muito importante e para nós, nos CSP, é positivo contarmos com mais um parceiro e aliado, já que todos somos úteis para conseguir melhorar a situação vigente nos CSP em Portugal”.