Fórum “O Futuro da Investigação em Cuidados de Saúde Primários” lança bases para um novo plano estratégico nacional

Teve lugar em Torres Vedras (Medicina ULisboa – Campus de Torres Vedras), o Fórum “Futuro da Investigação em Cuidados de Saúde Primários”, uma iniciativa durante a qual foi divulgado o trabalho desenvolvido ao longo de dois anos por um grupo multidisciplinar que reuniu membros da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), Associação Portuguesa de Enfermeiros em Cuidados de Saúde Primários, Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e Portuguese Clinical Research Infrastructure Network (Pt-CRIN).

O grupo mapeou e analisou as principais barreiras à investigação em cuidados de saúde primários e identificou estratégias para as contornar, recorrendo a uma revisão da literatura e aos resultados de estudos qualitativo e quantitativo conduzidos a nível nacional, chegando a um conjunto de conclusões que depois foram submetidas a um processo de consenso, através de duas rondas do método Delphi para as quais contribuíram 62 peritos. Este esforço foi depois consubstanciando num documento policy-brief com recomendações estratégicas para fortalecer e estruturar a investigação em cuidados de saúde primários em Portugal. O fórum serviu não apenas para apresentar publicamente este documento, mas também para dar início à construção de um roadmap nacional que defina os próximos passos rumo à aplicação concreta destas recomendações, com ajuda das reflexões dos próprios participantes do fórum, que para tal se dividiram em grupos de trabalho.

Através deste fórum, concretizado com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras, os organizadores deram o tiro de partida para um movimento nacional que coloque a investigação em cuidados de saúde primários no centro das políticas públicas e quiseram dar um passo decisivo na definição de uma estratégia nacional para a promoção da investigação nesta área essencial do sistema de saúde português.

Segundo Nuno Jacinto, presidente da APMGF, “a investigação tem uma enorme importância nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) mas, infelizmente e por diversas razões, tem sido relegada para segundo plano ao longo dos anos. Para inverter esta tendência, a APMGF decidiu apostar de forma clara e firme nesta área, tendo reativado o seu Departamento de Investigação que tem sido responsável por diversas iniciativas e atividades”. O dirigente associativo explicita que “a recente divulgação do policy-brief «Estratégias para a Promoção de Investigação em Cuidados de Saúde Primários em Portugal» é o mais recente exemplo deste trabalho, fomentando a discussão construtiva entre todos os intervenientes neste domínio e propondo medidas concretas que permitam o fortalecimento e implementação de projetos de investigação de qualidade no âmbito dos CSP. A concretização desta vontade permitirá, sem qualquer dúvida, prestarmos mais e melhores cuidados aos nossos utentes”.

Por seu turno, Margarida Gil Conde, do Departamento de Investigação da APMGF, acredita que “o principal resultado esperado deste Fórum é a criação de um Plano Estratégico Nacional para a Investigação em CSP, que contemple ações concretas nas diferentes áreas críticas já identificadas — como o tempo disponível para investigar, a infraestrutura de apoio, os processos éticos, o acesso a dados, o financiamento, a gestão institucional e a valorização profissional. Este plano, cuja base técnica está reunida no policy-brief apresentado, deverá incluir propostas detalhadas de operacionalização, com metas a curto, médio e longo prazo, ações-piloto, mecanismos de monitorização e indicadores de avaliação”.

Para este responsável, “a expectativa é que, a partir deste Fórum, se consolide um compromisso institucional alargado, envolvendo as entidades responsáveis pelo sistema de saúde, ciência e formação profissional, para garantir que a investigação em CSP deixe de ser uma exceção e passe a ser parte integrante e valorizada da prática clínica. É, acima de tudo, um ponto de partida para uma mudança sistémica, sustentada e colaborativa que pretende colocar a investigação em CSP no radar da atuação política”.

Já Sandra Amaral, gestora de projetos na área de investigação em saúde na AICIB, sublinha que o estudo Delphi desenvolvido mostrou que “as barreiras à investigação nos CSP identificadas em Portugal são muito similares às identificadas noutros países, em especial no espaço europeu. Um fator diferenciador é que a maioria destes países já detetou tais barreiras há mais tempo do que nós, colocando em marcha estratégias para melhorar o contexto. Por um lado isto é positivo, porque nos deixa a possibilidade de seguir alguns destes bons exemplos e aprender com aquilo que já correu bem”.

Algo que surpreendeu, de alguma forma, Sandra Amaral no estudo Delphi foi a circunstância de “existir um grande consenso entre os peritos em torno das recomendações apresentadas, sendo que quase todas elas reuniram percentagens de concordância elevadas. A dimensão que se pautou quase sempre por valores ligeiramente mais baixos foi a da exequibilidade. Tal significa que as pessoas deste ecossistema concordam na generalidade com as medidas avançadas e reconhecem a sua importância, estão convencidas de que no terreno existem barreiras práticas para as implementar mas têm vontade em superá-las. Daí a importância de termos promovido em Torres Vedras este debate com os diversos intervenientes no sistema, para perceber quais as fases que é importante instituir num plano estratégico, o que pode ser feito para facilitar a investigação em CSP e que barreiras centrais temos de ultrapassar. Tudo isto é de um grande valor para depois podermos concretizar um plano de ação mais concreto”.

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