Os médicos de família têm a oportunidade e o dever de sonhar

Terminou o maior congresso internacional de Medicina Familiar alguma vez realizado em Portugal, a 25ª Conferência Mundial da WONCA, que trouxe a Lisboa 4200 inscritos e recebeu a submissão de mais 2 mil posters, cerca de 1150 comunicações orais e aproximadamente 150 workshops e simpósios, numa organização partilhada pela APMGF e pela Região Europeia da WONCA.

“Esta jornada não termina hoje. Lisboa deixou mais uma vez a sua marca na Medicina de Família global e plantou sementes que perdurarão muito depois desta conferência”, afirmou no encerramento da iniciativa Nuno Jacinto (presidente da APMGF). O dirigente considerou que o ciclo se fechou da melhor forma possível e que a sua mensagem no arranque dos trabalhos se materializou com brilhantismo: “vamos sair desta conferência não apenas inspirados, mas comprometidos. Comprometidos em fazer mais, em ser mais, em levar esta visão coletiva adiante. Encerro com as mesmas palavras com as quais comecei, há quatro dias atrás: há um enorme poder em cada um de nós e há um enorme poder na Medicina de Família. E hoje acrescento, nunca paremos de sonhar. Nunca fujamos da responsabilidade que vem com esses sonhos”.

Para Viviana Martinez-Bianchi (presidente da WONCA Mundial) esta foi uma conferência única e memorável na qual ficaram vincados os valores fundamentais da MGF, algo de indispensável numa fase em que se torna necessário não esquecer a raiz da especialidade: “neste mundo digital, não somos apenas profissionais que usam tecnologias, somos paladinos do humanismo no seio da Medicina. Se ficarmos atrás de uma secretária, a escrever no nosso computador, ignorando os nossos pacientes, vamos perder essa ligação humana”. Por todas estas razões, a WONCA decidiu, como foi anunciado pela sua presidente no encerramento do evento, eleger para o Dia Mundial do Médico de Família em 2026 o lema «Cuidados com Compaixão num Mundo Digital». O objetivo é o de deixar bem claro que “é vital equilibrar progresso com presença, oferecer cuidados que, embora digitais, nunca deixam de ser compassivos. Recordar ao mundo que apesar da tecnologia poder mudar, a essência da Medicina Familiar permanece inalterada: cuidar das pessoas com dignidade, continuidade e afeto”.

Nina Monteiro (co-chair do Comité de Organização Local) considerou históricos os números referentes aos delegados e à apresentação de trabalhos científicos, porém acrescentou que a conferência de Lisboa se destacou também como um êxito devido a valores mais duradouros no tempo: “para nós, a verdadeira medida do sucesso foram as conexões que estabelecemos. As ideias que partilhámos e o renovado sentido de propósito que levamos para casa”. A responsável da organização agradeceu de modo veemente a todos quantos contribuíram para este momento de união: “obrigado a todos pela presença, paixão e crença no poder dos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e da Medicina Familiar”.

Já Thomas Frese (presidente eleito da Região Europeia da WONCA) salientou o facto de os participantes “terem vindo de todas as partes do mundo, de todos os continentes, alguns de clínicas em meios rurais, outros de unidades e hospitais em grandes cidades, ou de instituições académicas centrais, todos unidos por uma missão comum; fortalecer a Medicina Familiar e os CSP em todas as nossas comunidades”. Perante a multiplicidade de pontos de vista e a diversidade da ciência e das experiências divulgadas nas salas, seja na forma de comunicação ou de oficina, Thomas Frese não teve dúvidas de que “o espírito da WONCA e da Medicina Familiar global esteve bem vivo em Lisboa”. Esse espírito de abertura e conquista permanente de conhecimento permitiu explorar novas avenidas em áreas tão atuais como “as alterações provocadas pelas alterações climáticas, transformação digital da saúde, equidade no acesso a cuidados e sustentabilidade da força de trabalho na saúde”.

 

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