O Encontro de Outono da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), realizou-se nos dias 21 a 23 de novembro em Fátima. A preceder o evento, a APMGF ofereceu a oportunidade de realizar o intercâmbio pré-Encontro, nos dias 19 e 20 de novembro, na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Fátima, integrada na Unidade Local de Saúde (ULS) Região Leiria. Tratou-se de um estágio de carácter observacional, em que tive a oportunidade de assistir e aprender sobre a prática de MGF numa USF diferente.
Esta oportunidade atraiu-me pela possibilidade de conhecer um novo local e equipa de trabalho, bem como uma população abrangida diferente, com as suas especificidades. Adicionalmente, a oportunidade de acompanhar uma médica especialista diferente confere à experiência um valor imensurável, pois a vivência da sua prática clínica refletiu-se em ínumeras aprendizagens, que levarei comigo para a minha vida profissional.
A USF Fátima é constituída por uma equipa multiprofissional composta por 8 médicos de família, 8 enfermeiros e 6 administrativos. Adicionalmente, a USF tem como colaboradores a Unidade de Cuidados na Comunidade Cova da Iria, o Gabinete de Saúde Oral, um técnico de diagnóstico cardiopulmonar, uma Assistente Social e a Unidade de Saúde Pública. Estes colaboradores localizam-se no mesmo edifício da USF, o que permite uma articulação mais direta entre as unidades, para esclarecimento de eventuais dúvidas por exemplo, bem como permitir uma maior comodidade ao utente, que encontra muitos dos serviços que necessita no mesmo edifício. No início do estágio, foi-me atribuída uma tutora, cuja atividade acompanhei ao longo dos dois dias do estágio. Ela fez questão de apresentar-me a todos os membros da equipa da USF Fátima, bem como das unidades colaboradoras, para facilitar a minha integração. Aproveito esta oportunidade de relato para agradecer a amabilidade da equipa que tão bem me recebeu e me fez sentir integrada, não obstante a curta duração do estágio.
Explicou-me também o funcionamento da unidade, nomeadamente a organização das consultas, que se revelou diferente da minha unidade de colocação. Pude, deste modo, apontar algumas diferenças que considerei benéficas para posterior partilha com a minha equipa. Durante estes dois dias de estágio pude assistir a consultas de várias tipologias diferentes, bem como a utentes de várias faixas etárias. As manhãs começavam por avaliar os pedidos de consulta aberta e efetuar uma breve triagem telefónica. Nos casos em que se justificasse, os utentes dirigiam-se à unidade para serem avaliados presencialmente, com a maior brevidade possível.
Posteriormente, iniciávamos as consultas programadas, nomeadamente Saúde do Adulto, Vigilância de Hipertensão e Diabetes, Planeamento Familiar e Saúde Infantil, bem como consultas de reavaliação de situações agudas. Pude auxiliar a minha tutora na realização da anamnese, exame objetivo e formulações de hipóteses diagnósticas e planos terapêuticos, aproveitando para tirar apontamentos e esclarecer dúvidas. A USF Fátima tem como área de atuação a população residente na freguesia de Fátima, do concelho de Ourém. A cidade é conhecida mundialmente devido ao relato das aparições da Virgem Maria, reportado por três pastorinhos de 13 de maio até 13 de outubro de 1917.
Como pessoa de fé que sou, não poderia ter deixado escapar a oportunidade de conciliar duas paixões minhas: a Medicina e a Espiritualidade. De facto, é uma cidade com muito simbolismo e tradição, pelo que poder contactar com maior proximidade com a sua população e conhecer melhor a sua história traduziu-se numa experiência muito especial para mim.
O Encontro de Outono ocorreu nos dias 21 a 23 de novembro no Hotel SDivine em Fátima. Para além das excelentes sessões, onde destaco o elevado nível científico, tivemos a oportunidade de participar em oficinas, com um caráter muito prático, traduzindo-se em ferramentas de grande aplicabilidade na prática clínica diária. Gostaria de destacar a oficina “Workshop Pé Diabético” pelo Grupo de Estudos em Diabetologia e a oficina “Identificação de pessoas com necessidades paliativas em Cuidados de Saúde Primários” pelo Grupo de Estudos de Cuidados Paliativos, pela excelente organização e transmissão de conhecimentos práticos e úteis para os desafios do dia-a-dia de um Médico de Família. Quanto às sessões, gostaria de destacar a sessão plenária “Reforma, envelhecimento e luto”, lecionada em parceria entre os Grupos de Estudos da Família, Saúde do Idoso e Saúde Mental. Nesta sessão muito interativa, acompanhamos o caso clínico de uma família na fase de envelhecimento e luto, com todo o seu impacto físico e psicológico, sublinhando a importância de uma abordagem holística do individuo, crucial na prática de um Médico de Família.
Destaco ainda a sessão “Imigração: que desafios para a MGF?” pela Comissão de Médicos Internos de MGF de Lisboa e Vale do Tejo, onde foram abordados o contexto legal do imigrante e as principais diferenças na abordagem do utente imigrante na consulta de MGF. Sendo um tema que apresenta alguns desafios e poucas soluções, foi bom ouvir a partilha de colegas mais experientes, numa produtiva discussão que se gerou no final da sessão. De facto, é também durante estes momentos de discussão e partilha, quer no final das sessões, quer em momentos de convívio, que muito se aprende, tornando estes eventos experiências muito produtivas.
Estes eventos são, também, oportunidades para conhecer os diferentes grupos de estudo da APMGF e o excelente trabalho que desempenham. Eu tenho a sorte de integrar o Grupo de Estudos da Saúde do Idoso (GESI), no qual tenho colaborado na realização de projetos muito interessantes. No Encontro de Outono, tivemos a oportunidade de reunirmo-nos presencialmente.
Em jeito de conclusão, a diversidade dos temas discutidos neste evento, bem como a multiplicidade de Grupos de Estudo existentes, traduzem a larga abrangência desta especialidade e, com ela, o seu caráter desafiante. De facto, o Médico de Família orienta os problemas agudos e vigia os crónicos, observa utentes desde a criança até ao idoso e tem um papel crucial nos vários níveis da prevenção, daí a frase supramencionada ter ressoado em mim.
Aproveito esta oportunidade para agradecer novamente à APMGF por esta oportunidade, à Dra. Denise Velho pela organização e disponibilidade demonstrada, à Dra. Ana Isabel Alves por tão bem me ter recebido e partilhado comigo um pouco do seu grande saber clínico e à restante equipa da USF Fátima, pela receção calorosa. Aproveito ainda para estimular os colegas a participarem nestas iniciativas, quer nacionais quer internacionais, pois são experiências que muito enriquecem a nossa vida, tanto pessoal como profissionalmente.