A vencedora do Junior Research Award 2025, atribuído pelo Movimento Europeu de Jovens Médicos de Família (European Young Family Doctors’ Movement – EYFDM) foi a médica portuguesa Catarina Gomes Madeira. A colega especialista em MGF, integrada no programa doutoral da Escola Nacional de Saúde Pública (Universidade NOVA de Lisboa), foi escolhida entre três finalistas no passado mês de setembro, durante a Pré-Conferência do EYFDM e Conferência Mundial da WONCA, realizadas em Lisboa, sendo que na final esteve igualmente a colega portuguesa Sofia Mendes Cunha. O prémio em causa visa incentivar jovens médicos de família e internos da especialidade a desenvolverem as suas capacidades de investigação com o fim último de elevar a fasquia da qualidade assistencial nos cuidados de saúde primários. Por esse motivo, o EYFDM concede anualmente este prémio com o objetivo de apoiar projetos avançados de internos de MGF ou jovens médicos de família com até 6 anos de experiência profissional após a graduação.
O que significa para si, do ponto vista pessoal e profissional, a atribuição do Junior Research Award 2025 pelo EYFDM?
Catarina Gomes Madeira – Este prémio representa o reconhecimento do trabalho desenvolvido no âmbito da minha tese de mestrado em Saúde Global. Pessoalmente, é uma grande motivação para continuar a desenvolver projetos que promovam a equidade em saúde. Profissionalmente, reforça a visibilidade do projeto, abre novas oportunidades de colaboração e incentiva uma reflexão ainda mais profunda sobre o papel dos médicos de família na redução das desigualdades em saúde.
Como descreveria, de forma sumária, o projeto que lhe permitiu ganhar este prestigiado prémio internacional?
O projeto analisou a adesão ao rastreio do cancro do colo do útero entre mais de 84 mil mulheres inscritas em 18 unidades de Cuidados de Saúde Primários em Lisboa. O objetivo foi comparar a participação entre mulheres migrantes e portuguesas, explorando também diferenças entre migrantes de países de língua oficial portuguesa e de outros contextos.
Os resultados mostraram que as mulheres migrantes apresentaram menor adesão ao rastreio, sendo esta diferença ainda mais significativa entre as mulheres de países que não partilham a língua portuguesa. Fatores organizacionais, como a inscrição em Unidades de Saúde Familiar e atribuição de médico de família, associaram-se a uma maior participação no rastreio.
Que motivos, associados ao desenvolvimento e crescimento da especialidade, julga que o júri terá valorizado em particular no seu projeto e percurso de investigação?
Acredito que o júri tenha valorizado a forma como o estudo evidenciou o papel da organização dos Cuidados de Saúde Primários na promoção da equidade. O foco na saúde das populações migrantes é também crucial: atualmente, estima-se que cerca de 10% da população europeia seja migrante, tornando esta uma realidade com que os médicos de família se cruzam diariamente no seu trabalho.
Considera que faltam mais iniciativas deste género, a nível nacional e internacional, no sentido de estimular a investigação entre os mais jovens representantes da MGF?
Sim, estas iniciativas são fundamentais para promover e valorizar a investigação em Medicina Geral e Familiar (MGF). Seria igualmente importante criar mais oportunidades de formação e disponibilizar tempo protegido durante a especialidade para o desenvolvimento de projetos. Estimular a curiosidade científica desde o início do internato pode consolidar uma cultura de investigação e inovação na MGF.
A todos os colegas mais jovens que possam pensar que candidatar-se a um prémio ou a uma bolsa internacional de investigação é algo que não passa de um sonho, o que diria?
Vale sempre a pena tentar. O mais difícil é começar, mas cada apresentação ou partilha do projeto abre portas, cria contactos e gera novas ideias para melhorar o trabalho. Mesmo projetos pequenos podem ter um impacto significativo na vida dos utentes e na qualidade dos cuidados prestados e merecem ser reconhecidos!












