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A importância dos internos se envolverem em projetos de investigação

Conferência de Bruno Heleno no 34º Encontro Nacional de MGF:

Bruno Heleno, professor convidado do Departamento de Medicina Geral e Familiar (MGF) da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, vai realizar uma conferência intitulada “Porquê fazer ciência em Medicina Geral e Familiar?”, durante a receção aos novos internos sócios da APMGF programada para o primeiro dia do 34º Encontro Nacional (a partir das 17h30 do dia 16 de março), no Estoril. Nesta comunicação, o investigador vai procurar elucidar os futuros médicos de família sobre a necessidade imperiosa de manterem as suas atividades de investigação, não apenas durante o período de internato, mas também durante a sua carreira enquanto especialistas.

Que tópicos essenciais pretende explorar na sua conferência?

Bruno Heleno – Nesta apresentação quero dar exemplos de como conseguimos melhorar a saúde das pessoas através de resultados de investigação. Quero também falar de como é que os internos se podem envolver em projetos de investigação.

Julga que no final do ano comum do internato e após vários anos de foco quase puramente clínico, estes jovens médicos estão na generalidade pouco despertos para a importância de realizarem investigação?

A maioria da produção científica em Portugal tem sido feita pelos médicos internos, por isso não creio que estes estejam pouco despertos. Aliás, basta olhar para os trabalhos apresentados nos encontros e congressos de MGF para ver a quantidade de esforço e horas despendidas pelos internos em trabalhos de investigação. O futuro passará por ajudar estes internos a serem mais ambiciosos no foco de investigação e a terem maior supervisão metodológica. Quando falo em ambição, estou a pensar que, em vez de se focarem em questões apenas com interesse a nível local, devemos criar condições para que os internos possam abordar questões que mudem a prática clínica dos médicos a nível mundial. Quando falo de supervisão, estou a pensar que embora não possamos esperar que todos os internos e orientadores tenham formação em investigação clínica, existem já vários médicos de família doutorados que podem orientar projetos de investigação. Aliás, penso que um dos passos essenciais para se fazer ciência em MGF passa por melhorar a ligação dos internatos às universidades.

À partida, muitos dos novos internos de MGF poderão pensar que a MGF é uma especialidade pouco recetiva à produção de ciência… De que forma é possível transformar esta visão?

A MGF não é menos recetiva à produção de ciência do que outras especialidades. Os nossos especialistas e internos têm as mesmas capacidades que os de outras especialidades. Ou seja, têm a mesma curiosidade, a mesma criatividade e a mesma inteligência que médicos de outras especialidade. Talvez, tenham até mais treino a relacionar coisas complexas (porque lidamos muito com a multimorbilidade e porque estamos habituados a integrar aspetos biológicos, psicológicos e sociais). Os nossos especialistas e internos têm a mesma motivação intrínseca para investigar que os de outras especialidades. Isto é, à semelhança de outras especialidades, temos doentes que vêm à nossa consulta com problemas aos quais a medicina atual não consegue responder. Por exemplo, sabemos que cerca de 20% dos sintomas que nos são apresentados na consulta desafiam qualquer explicação médica. Ou seja, temos muita ciência a fazer sobre diagnóstico e muita ciência a fazer sobre o papel de aspetos psicossociais nos sintomas somáticos. Os nossos especialistas e internos têm as mesmas oportunidades para fazer investigação que os de outras especialidades. Existem departamentos de MGF em todas as escolas médicas, existem bolsas de investigação clínica e bolsas de doutoramento nacionais e estrangeiras da FCT, existem programas de formação avançada como o programa Clinical Scholars do Harvard Medical School e os vários programas de doutoramento nas universidades portuguesas. Podemos achar que estes apoios à investigação podem ser relativamente escassos, mas eles são tão acessíveis a médicos de MGF como a outros médicos. Talvez os nossos internos até tenham a vantagem de ter um internato muito estruturado e com pessoas que valorizam a investigação. O que quero dizer com isto tudo é que, se pensarmos bem,  devemos  aperceber-nos que temos a mesma capacidade, motivação e oportunidades que as outras especialidades. Não há razão para pensar que a MGF seja pouco recetiva à investigação. 

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