Mónica Granja conclui provas de doutoramento com tese centrada no acesso aos médicos de família durante a pandemia

A Medicina Geral e Familiar (MGF) pode orgulhar-se de ter mais um doutorado no nosso país, no caso a colega Mónica Granja, médica de família na UCSP Stª Cruz do Bispo (Unidade Local de Saúde de Matosinhos), que prestou provas de doutoramento em Saúde Pública na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), no passado dia 5 de julho, com a tese «Accessibility to general practitioners amidst a pandemic: the dynamics of access through the lens of patients and doctors».

O júri das provas foi presidido por Carla Lopes (FMUP) e integrou como arguentes Pedro Pita Barros (Nova School of Business and Economics) e Daniel Pinto (Nova Medical School). Participaram ainda como elementos do júri o orientador da tese Luís Alves (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar – ICBAS), Raquel Lucas Ferreira (investigadora principal do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto), Ana Cardoso Oliveira (FMUP) e Teresa da Costa Leão (FMUP). A coorientadora da tese foi Sofia Gonçalves Correia (IQVIA).

Esta tese teve como objetivo determinar a acessibilidade aos médicos de família (MF) em Portugal, na perspetiva de médicos e de pacientes, em diferentes pontos do trajeto do acesso durante a pandemia de COVID-19. Inclui três estudos observacionais, utilizando três questionários. A equipa de investigação inquiriu uma amostra aleatória de adultos inscritos nos centros de saúde da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, os MF que trabalhassem em centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal continental em 2021 e seguiu diariamente uma coorte aberta durante a primeira vaga da pandemia de COVID-19 em Portugal. Como principais resultados e conclusões os investigadores determinaram que a continuidade da relação entre os MF e os seus pacientes é indissociável da acessibilidade. No deflagrar de uma pandemia, os MF permaneceram o principal ponto de contacto entre as populações e o sistema de saúde, assegurando a equidade no acesso.

A maioria das pessoas afirmou adotar o sistema de primeiro contacto, por valorizar as relações terapêuticas duradouras e a confiança. Ameaças à acessibilidade aos MF e à continuidade relacional foram identificadas entre as pessoas com escolaridade superior, que escolhiam mais o acesso direto a médicos especialistas nos problemas que as preocupam, e também entre as pessoas com mais dificuldades em usar serviços de saúde digitais. Os MF reportaram sobrecarga horária regular e, mesmo assim, falta de tempo para os diversos tipos de contactos com pacientes. Os MF mais jovens mais frequentemente admitiram dificuldade em cumprir os tempos máximos de espera, o que é preocupante para o futuro dos Cuidados de Saúde Primários em Portugal”, explica Mónica Granja.

A médica da UCSP Stª Cruz do Bispo acredita, após a realização destes estudos, que “é necessária uma redução da carga de trabalho dos MF para que seja possível continuar a prestar cuidados assentes em relações terapêuticas, permitindo o ajustamento interpessoal que fomenta a acessibilidade. Isto poderá ainda contribuir para a retenção de MF no SNS. Os planos de transformação digital do sistema de saúde português devem assegurar que os canais de acesso tradicional se mantêm operacionais até que se atinja a necessária literacia digital e as infraestruturas necessárias estejam disponíveis. Os MF devem ser incluídos nos planos de preparação para pandemias e a sua força de trabalho ser apoiada de modo a se manterem acessíveis aos seus pacientes, em futuras emergências de saúde”.

Relativamente à realização do doutoramento, um passo tão importante na carreira de qualquer médico que deseje conciliar a atividade de prestação de cuidados com outras dimensões, nomeadamente a científica, Mónica Granja confessa que “a decisão de iniciar estudos de doutoramento veio da necessidade de estruturar e dar mais consistência ao interesse pela investigação, intensificando o tempo dedicado, alargando os conhecimentos e, sobretudo, contando com o know-how de investigadores experientes”.

Já sobre os efeitos que o doutoramento poderá ter na sua vida profissional e pessoal, Mónica Granja tem uma certeza: “o processo, no seu todo, teve e tem um impacto incomensurável em várias áreas. Desde logo, no meu bem-estar, porque os momentos em que paramos de dar consulta e estudamos, lemos o que outros pensam e a partir daí tentamos criar algo, são de grande crescimento e ajudam a levar o dia-a-dia intenso de atividade mais clínica. Também no meu pensamento clínico, ao manter em mente como é prioritário fazer sentir aos meus pacientes que os conheço e aos seus problemas de saúde e os reconheço como indivíduos. Por fim, na minha atitude, perante a organização dos serviços de saúde, ao interiorizar a sobrecarga horária suportada por tantos colegas, por um lado, e a necessidade de proteger o acesso por meios tradicionais às populações mais vulneráveis, por outro”.

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