Documento de consenso publicado na Acta Médica Portuguesa pode contribuir para redução da pegada carbónica de inaladores

O Grupo de Estudos One Health da APMGF colaborou com o Conselho Português para a Saúde e Ambiente para a elaboração do documento de consenso «Recomendações para a Redução do Impacto Ambiental dos Inaladores em Portugal”, publicado na Acta Médica Portuguesa.

O documento, que tem como referência dados de 2022, sublinha que a pegada carbónica dos inaladores pressurizados tradicionais prescritos em Portugal foi estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono (CO2), o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde no país e a aproximadamente 95% do total de emissões dos inaladores. Os autores do documento listam uma série de recomendações para reduzir o impacto ambiental dos inaladores em Portugal, incluindo a prescrição de inaladores de pó seco, a aplicação de estratégias de incentivo à devolução de dispositivos usados nas farmácias e ao seu reaproveitamento e a introdução nas plataformas de prescrição de um mecanismo de alerta sobre a pegada ecológica de cada inalador, com um sistema de cores. A lista de recomendações engloba também a promoção da literacia ecológica de doentes e público em geral, a divulgação de boas práticas de sustentabilidade ambiental na saúde e a aplicação de critérios de emissões líquidas de gases com efeito de estufa tendencialmente nulas nas compras, contratações e adjudicações públicas.

De acordo com Inês Marques, médica na Unidade de Saúde Familiar Reynaldo dos Santos, colaboradora do Grupo de Estudos One Health da APMGF e uma das co-autoras do documento, o mesmo “tem o potencial de gerar um impacto significativo tanto na comunidade científica e clínica, como na sociedade em geral. Ao propor recomendações práticas e baseadas em evidência para a redução do impacto ambiental dos inaladores, contribui diretamente para a saúde pública e a sustentabilidade ambiental, com o objetivo de reduzir a pegada ecológica e melhorar a qualidade de vida dos doentes e a eficiência dos tratamentos, alinhando assim a prática médica com os imperativos globais de sustentabilidade”. Segundo a mesma fonte, “a comunidade médica parece demonstrar alguma falta de conhecimento sobre a pegada ecológica e o contributo do sector da saúde para o seu agravamento, particularmente no que diz respeito aos inaladores. Isto é evidenciado pelo inquérito realizado, onde apenas 52% dos médicos admitiu ter algum conhecimento sobre o tema, e mais de 70% não considera os aspetos ambientais no momento de prescrever”.

Para Inês Marques, “o consenso alcançado reflete um equilíbrio entre a eficácia clínica e a necessidade de reduzir o impacto ambiental, demonstrando a importância da colaboração interdisciplinar para alcançar soluções integradas e eficazes. O maior desafio durante a elaboração do documento foi, no entanto, a escassez de dados científicos específicos sobre o impacto dos inaladores na pegada carbónica, especialmente no contexto português. Ainda assim, estamos muito satisfeitos com o resultado alcançado, conscientes de que este é apenas o início para a implementação de ações concretas no combate às alterações climáticas e à degradação ambiental”.

Ainda na perspetiva da colaboradora do Grupo de Estudos One Health, “ao fornecer recomendações baseadas na evidência para a redução do impacto ambiental, o documento pode influenciar não só a prática médica, mas também inspirar políticas públicas que promovam o uso de inaladores mais ecológicos. Para chegar aos círculos de decisão política e económica, o documento pode servir de base científica para apoiar mudanças legislativas e regulatórias, como incentivos ao uso de dispositivos mais sustentáveis e à educação ambiental no contexto da saúde”.

Já no que respeita às mudanças de atuação e comportamento específicas dos especialistas em MGF, Inês Marques sublinha que “as recomendações apresentadas podem encorajar os Médicos de Família a considerarem alternativas mais sustentáveis nas suas consultas. Ao introduzirem a discussão sobre o impacto ambiental dos diferentes tipos de inaladores com os seus doentes, os médicos podem aumentar a consciencialização ambiental dos mesmos e integrar este fator nas decisões clínicas diárias”.

Leia Também

No Dia Internacional do Idoso assume especial importância o reforço de cuidados e sistemas de suporte

APMGF traça rota direta entre Dublin e Lisboa na 29ª Conferência Europeia da WONCA

Intercâmbio pré-Encontro de Outono APMGF abre oportunidades de aprendizagem

Recentes