As 10ªs Jornadas do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP) da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) iniciaram-se em Lisboa (Hotel Eurostars Universal), reunindo mais de 550 participantes para uma dose dupla de atualização em cuidados respiratórios, numa lógica de transdisciplinaridade.
O arranque dos trabalhos foi marcado pela presença de Alan Kaplan, membro do Comité Científico da Global Initiative on Asthma (GINA), que na capital portuguesa abordou as potencialidades e riscos da Inteligência Artificial (IA) na gestão quotidiana das doenças respiratórias. O médico de família canadiano, diretor clínico da LHIN Pulmonary Rehabilitation Clinics no Ontário e clinical lecturer no Departamento de Medicina Familiar e Comunitária da Universidade de Toronto, acredita que há um lugar muito particular para as ferramentas de IA que, caso seja respeitado, permitirá evitar muitas das armadilhas que a comunidade científica teme: “atualmente, os médicos depois de efetuarem uma avaliação física e potencialmente laboratorial do doente, elaboram uma previsão de diagnóstico e fazem um juízo sobre como avançar. Ora se os computadores e a IA conseguem processar muito mais informação do que nós, então vamos usá-los em nosso benefício no modelo de previsão, enquanto ferramenta, sendo que ao final do dia caberá sempre ao agente humano ajuizar sobre o que fazer”.
Para o dirigente da GINA, não há dúvida de que “o segmento da IA é uma área de crescimento, entusiasmante, sobre a qual estamos a aprender diariamente. A minha mensagem essencial é a de que esta é uma ferramenta como qualquer outra e que a devemos usar tendo em atenção as suas limitações. Pode-nos dar muita informação e tornar a nossa vida mais fácil, mas também carrega problemas associados ao rigor e proteção dos dados de segurança dos doentes”.
Na cerimónia de abertura das jornadas, a coordenadora do GRESP, Cláudia Vicente, apresentou um vídeo ilustrativo das dez edições do evento e do desenvolvimento paralelo do GRESP, reforçando junto dos presentes que “o Grupo está sempre no consultório convosco. O nosso objetivo de sempre é trazer-vos instrumentos práticos que facilitem a vida dos médicos, da mesma forma que nós, membros do GRESP, aproveitamos outros instrumentos criados por outros grupos de estudo da nossa casa-mãe, a APMGF”.
Sessão fundamental no primeiro dia da iniciativa foi a que reuniu especialistas em torno da problemática da vacinação no adulto. A este propósito, Filipe Froes, reconhecido pneumologista do Hospital Pulido Valente – CHLN – adiantou que a hesitação vacinal é expectável entre a população, afetando também as vacinas contra a gripe e a COVID-19, mas que os médicos de família portugueses têm como trunfo nesta luta a sua capacidade de se ligarem às pessoas: “quando falamos a um doente que tem hesitação vacinal, a melhor maneira de estabelecermos confiança é conectarmo-nos com ele, não culpabilizá-lo. Essa ligação passa por mostrar que toda a evidência de que dispomos é favorável à vacinação. Na minha consulta, costumo usar um exemplo muito prático e elucidativo, dizendo que apenas duas vacinas estiveram na origem de Prémios Nobel da Medicina, a vacina contra a febre amarela e a vacina feita pela tecnologia de vacinas de RNA mensageiro (mRNA) para a COVID-19. E depois digo ao utente: como calcula, os cientistas da Real Academia Sueca de Ciências não são propriamente ignorantes”.
Já a diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, testemunhou que “os médicos são um exemplo para os utentes e para a sociedade”, pelo que é fundamental que os profissionais de saúde assumam a liderança e se vacinem também com vista a protegerem-se de infeções respiratórias. Segundo Rita Machado, este ano foram já desenvolvidas várias estratégias para ultrapassar a hesitação vacinal relacionada com a vacina da COVID-19 e gripe, entre as quais a realização de estudos para detetar barreiras, ou ações de comunicação e mobilização social. A DGS tem também investido em esclarecimentos em meios de comunicação de massa, como a televisão ou a rádio, algo que continuará ao longo da época vacinal, para desmistificar crenças falsas. Procuramos trazer também para o nosso lado os micro-influenciadores, que funcionam muito bem neste contexto. Diga-se, aliás, que todos os presentes nesta iniciativa, enquanto especialistas em MGF, são facilitadores e micro-influenciadores para os seus utentes”.
O dia encerrou com o lançamento do «Guia Prático da Asma em Situações Particulares» com a participação de Rosa Mota, que em breve irá começar a colaborar com o GRESP num projeto envolvendo caminhadas comunitárias. A campeã olímpica escreveu a nota prévia da obra desenvolvida pelo GRESP, na qual partilha a sua experiência de viver e correr com a asma. E deixou uma mensagem importante: “as crianças aprendem rapidamente a viver com a asma, mas os pais e os avós tentam colocá-las numa redoma, afirmando que o exercício faz mal, o pior que se pode fazer aos mais pequenos (…) só peço aos médicos de família que não passem atestados a declarar que as crianças têm asma e que não podem fazer exercício, porque isso é mentira!”.