No encerramento das 10ªs Jornadas do GRESP, realizadas em Lisboa nos dias 10 e 11 de outubro e que contaram com mais de 500 participantes, 18 sessões e cerca de 50 trabalhos apresentados, Cláudia Vicente, coordenadora do GRESP, garantiu que existem muitas razões para o grupo olhar para o passado e para o futuro de forma sorridente: “chegamos orgulhosamente a um décimo congresso destes médicos de família cuja paixão pelas doenças respiratórias os trouxe até aqui, embora não sejamos capazes de prescindir da visão holística e comunitária que nos caracteriza”. Para a dirigente, foi “a vontade de promover, investigar e ensinar que motivou o GRESP durante estes anos a atingir perto de 200 membros dentro da nossa sociedade médica. Esta vontade traduz o nosso crescimento e intenção de levar as doenças respiratórias a todo o lado, nos cuidados de saúde primários (…) No futuro, teremos de colaborar dentro e fora de portas em várias propostas, continuar a manter formação e estimular mais a investigação. Eu acredito no dinamismo e empreendedorismo do nosso trabalho e aproveito para convidar todos a estarem presentes nas nossas 11ªs Jornadas, a realizar no Porto em 2025”.
Um debate muito aguardado, que encheu a sala principal do Hotel Eurostars Universal, foi o que se centrou na evolução do Índice de Desempenho da Equipa (IDE) das Unidades de Saúde Familiar (USF). De acordo com Eurico Silva, médico de família na USF João Semana e membro da Coordenação do GRESP, há francos avanços registados pelas unidades portuguesas em indicadores como a vacinação antipneumocócica nos doentes com DPOC e nos doentes com asma, mas que se pode melhorar muito no que respeita ao cumprimento de indicadores da área respiratória se uma preocupação basilar receber a devida resposta: “as codificação é a base de tudo. Se não fizermos uma boa codificação não vamos conseguir encontrar os doentes que estão em falta. Assim, se quisermos por exemplo tirar uma listagem de doentes com DPOC que precisam de fazer a vacinação anti-gripal, como os vamos apanhar se não estiverem codificados? Se queremos resgatar os doentes asmáticos que fazem inaladores para a vacinação antipneumocócica, como os encontramos? Basta dizer que, em 2024, 66 mil pessoas em Portugal Continental tiveram consulta presencial nos CSP e prescrição de inaladores e não têm código que justifique terapêutica inaladora”. Para além de identificar mais doentes que escaparam à malha de atuação das USF, através de revisão de codificação ou extração de listagens, os profissionais podem e devem, segundo Eurico Silva, executar outras estratégias como lançamento de convocatórias de consultas para não cumpridores e um seguimento multiprofissional (médico/enfermeiro) em consulta.
Na asma em particular, com vista a um acompanhamento mais eficaz da equipa de saúde familiar e melhor cumprimento do IDE respiratório, existem alterações fáceis de implementar que possibilitam reduzir o número de doentes asmáticos perdidos no limbo do sistema de saúde, como sublinhou Cristina Bárbara, diretora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias: “deveria existir um alerta eletrónico nos sistemas de informação dos CSP, a comprovar que um determinado utente teve um episódio de urgência hospitalar suscitado por asma. O mesmo deveria suceder com os internamentos”.
Realce também nestas jornadas para a apresentação dos resultados do estudo «Epi-Asthma – Prevalência e caracterização das pessoas com asma, de acordo com a gravidade da doença, em Portugal». O investigador principal do estudo, Jaime Correia de Sousa, sublinhou o facto de este ser um grande estudo populacional feito em Portugal Continental, em que foram “aleatorizadas pessoas para serem submetidas a um questionário de sintomas de doença respiratória, sendo que as pessoas que pontuavam no questionário com probabilidade de asma foram convidadas a serem avaliadas. Tínhamos uma unidade móvel que percorreu as várias unidades do país a colaborar no estudo e que, no local, aplicou questionários, provas funcionais respiratórias, a colheita de uma gotícula de sangue para avaliar a presença de eosinófilos e avaliaram, também, a técnica inalatória”, metodologia que permitiu obter dados muito sólidos.
Segundo Jaime Correia de Sousa, a equipa de investigação está “agora a fazer as publicações científicas, algumas já submetidas e outras que serão submetidas nos próximos meses. A prevalência de asma está de acordo com o esperado, 7,1%. Algumas diferenças regionais – que nós esperávamos encontrar de acordo com outros estudos – são ligeiramente diferentes, uma maior prevalência de asma na Região Centro e menor na região do Alentejo, quando outros estudos indicavam o contrário. A percentagem de pessoas com asma grave anda entre 3% e os 9%. Este intervalo é tão dilatado porque aplicámos diferentes critérios para asma grave, de acordo com várias recomendações internacionais e já obtivemos prevalências diferentes de acordo com os critérios utilizados. Outra coisa que para nós é muito mais séria e que foi detetada é o número de pessoas com asma mal controlada, algo que vai merecer uma maior atenção por parte dos cuidados de saúde primários no sentido de investirem mais no tratamento da doença”.