Realizaram-se nos dias 27 e 28 de fevereiro as 34ªs Jornadas de Medicina Geral e Familiar (MGF) de Évora, organizadas pela Delegação Distrital de Évora da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) com enorme sucesso, reunindo cerca de 120 inscritos.
Na abertura dos trabalhos, Nuno Jacinto (presidente da APMGF) sublinhou que completar “trinta e quatro jornadas é algo de complexo” e que o evento é “prova da resiliência da Delegação de Évora, da APMGF e de todos os médicos de família. Precisamos de ser resilientes nos tempos sombrios que vamos vivendo, continuar a acreditar e a lutar por aquilo em que acreditamos, o que não é fácil. Mas por maior que seja a adversidade, temos de continuar a fazer ouvir a nossa voz, daí a importância de todos se juntarem a nós, Delegação de Évora e APMGF. A Associação existe precisamente para isto, para dignificar a nossa especialidade e é essencial que todos nós não nos acomodemos e que não nos deixemos vencer pela ignorância, incompetência e disparate. Mesmo que tal signifique, por vezes, dar um passo atrás, para depois dar dois à frente”.
O período atual não é, de facto, simples para os serviços de saúde (CSP incluídos) no Alentejo Central, já que na véspera da realização destas jornadas o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC) apresentou a sua demissão devido, sobretudo, a divergências com a tutela a propósito no processo de construção do Novo Hospital Central do Alentejo.
Vítor Fialho, presidente do conselho de administração demissionário, declarou no arranque dos trabalhos que “há momentos na vida profissional e coletiva em que temos de dar um murro na mesa, para que as coisas possam melhorar”, acrescentando que “não vale a pena arrastar as situações quando elas aparentemente não terão uma boa solução a curto prazo”. Em jeito de despedida pessoal, o presidente demissionário da ULSAC lembrou que foi sempre um prazer participar nestas jornadas e que “os médicos de família (MF) sempre fizeram parte da solução. Guardo com carinho todas as intervenções que tive junto dos CSP, porque ao contrário daquilo que muitos gestores pensam, os CSP são uma forma de resolver problemas em saúde”, frisando ainda que a quase totalidade dos 162 mil utentes inscritos na ULS têm MF atribuído, com a cobertura integral a apresentar-se como um objetivo possível no horizonte.
Entre os temas escolhidos para debate nestas jornadas estiveram tópicos como a necessidade de descomplicar as burocracias nos cuidados primários, as vantagens e armadilhas de se poupar em saúde, a gestão da perturbação de hiperatividade e défice de atenção, as alterações hematológicas ou os desafios da suplementação em MGF. Realce também para a conferência de encerramento, intitulada “Quem só sabe de Medicina, nem de Medicina sabe”. De acordo com a delegada distrital de Évora da APMGF e membro da comissão organizadora, Helena Gonçalves, este evento anual reúne “os mais jovens, mas também colegas que têm atividade clínica há vários anos e a troca de experiências é sempre muito interessante”. A responsável garante que a Delegação de Évora e as jornadas necessitarão “sempre dos mais novos para renovar o trabalho da Associação e manter o dinamismo da MGF no Alentejo, nos próximos anos. Na realidade, a Delegação tem feito um grande esforço para concretizar tal renovação, no sentido de garantir que entram novas ideias e para que os novos internos em MGF da região se possam sentir integrados. Por outro lado, os membros com mais anos de experiência que hoje têm uma prática clínica diferente, ou que já estão aposentados, também querem estar presentes e ativos, o que é muito satisfatório para nós”.
Helena Gonçalves considerou vital a discussão tida nestas jornadas relativamente à desburocratização da quotidiano do MF: “apesar de termos hoje sistemas informáticos úteis, existem também questões e processos que temos de resolver e que não faziam parte das nossas obrigações no passado. Assim, é indispensável a reflexão sobre como podemos reduzir a carga destas burocracias e, se possível, aumentar o tempo dedicado ao cuidado ao doente e à família”. A delegada distrital destacou também o debate sobre quanto custa poupar em saúde, que contou com a participação do economista da saúde Pedro Pita Barros e do gestor em saúde e ex-Secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre: “esta é uma das preocupações fundamentais dos MF em 2025. Com os novos indicadores das USF, é evidente a apreensão face a eventuais penalizações originadas por custos associados à unidades. Posso mesmo dizer que se nota algum desânimo e insatisfação, já que os profissionais sentem que mesmo sendo criteriosos nas prescrições, o circuito em torno do utente não está bem delimitado e podem ser prejudicados por questões como as transcrições de médicos na prática privada”.
Como é habitual, a Delegação Distrital de Évora da APMGF promoveu ainda uma exposição fotográfica em paralelo ao evento, sob o tema “Sou médico mas também…”. É importante ainda realçar o prémio atribuído ao melhor poster apresentado nas jornadas, neste caso atribuído ao trabalho integrado na categoria de revisão de tema «Impacto da suplementação de vitamina D na pré-diabetes: outcomes glicémicos e atraso na progressão para diabetes mellitus tipo 2”, da autoria de Joaquim Miguel Braga Araújo (Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior).