29th WONCA Europe: Inovação e Futuro na Medicina Familiar – Relato de Mariana Braga

Este ano, o 29º Congresso Europeu de Medicina Geral e Familiar (29th WONCA Europe Conference 2024) levou-me a Dublin, entre os dias 25 e 28 de setembro. Foi mais um momento de partilha de conhecimento e reflexão sobre o papel da Medicina Geral e Familiar na saúde global, que contou com 2.600 participantes, incluindo mais de 800 médicos internos, e, como é habitual, uma delegação portuguesa robusta e muito ativa.

Este ano, tive a oportunidade de apresentar uma comunicação oral no âmbito do tema “Measuring and Improving Quality”. No seguimento do estudo transversal já apresentado no congresso europeu anterior, esta comunicação focou-se num projeto de melhoria contínua da qualidade implementado há já três anos na minha USF, focado na prestação de cuidados adequados na vacinação antipneumocócica a doentes com DPOC, uma área de grande importância nesta população. Foi uma oportunidade enriquecedora para discutir as abordagens adotadas e partilhar experiências com colegas de diversos países. Partilhei este painel com o colega Rodrigo Varandas, que apresentou um trabalho da mesma área de intervenção, focado numa população alvo mais abrangente.

Além da comunicação oral, tive também a oportunidade de partilhar dois trabalhos sobre Diretivas Antecipadas de Vontade, em formato de póster. O primeiro trabalho diz respeito a um estudo transversal realizado na região de Lisboa, sobre as perspetivas e atitudes dos profissionais de saúde em relação a este tema. O segundo trabalho, realizado em três unidades de saúde, refere-se a um projeto de intervenção, focado na capacitação dos profissionais acerca deste tema, através de formações específicas com o objetivo de melhorar os seus conhecimentos nesta área.

Durante o congresso, tive oportunidade de assistir a sessões de diversos temas, das quais destaco uma sessão sobre “Professional Health & Wellbeing”, com foco em estratégias de prevenção de burnout nos profissionais de saúde. A colega Mariana Casimiro partilhou um dos seus trabalhos nesta sala, que contava com colegas de mais de cinco países diferentes, com partilhas que permitiram uma reflexão importante sobre estratégias que podem ser implementadas pelas organizações para melhorar as condições de trabalho e retirar o foco apenas das intervenções focadas no individuo, estendendo-se às intervenções focadas nas relações interpessoais no trabalho.

Das Keynote Lectures destaco “The Future Generalist: Managing multiple long-term conditions in general practice”, uma apresentação que lançou uma reflexão sobre a complexidade crescente que os médicos de família enfrentam na gestão de doenças crónicas múltiplas. Assisti também a uma excelente Lecture sobre “Clinical Uncertainty and Artificial Intelligence: Discovering New Routes in Primary Care”, que trouxe à discussão o futuro da prática clínica com a introdução da inteligência artificial e a sua potencial contribuição para a redução da incerteza clínica. Por fim, destaco ainda a sessão sobre “Evidence-based eHealth: When is digital innovation of added value in practice?” que nos desafiou a pensar de forma crítica sobre como as inovações digitais podem acrescentar de facto valor à prática clínica.

No final do congresso, ficou mais uma vez evidente que, em Portugal, temos já algumas áreas onde somos uma referência, como a integração dos cuidados facilitada pela plataforma RSE (Registo de Saúde Eletrónico). Da mesma forma, a especialidade de Medicina Geral e Familiar está já amplamente presente no nosso dia-a-dia, como a base para a prestação de cuidados de saúde de proximidade à população. Contudo, foi também claro que ainda temos um longo caminho a percorrer em questões fundamentais como as condições de trabalho dos médicos de família.

O WONCA Europe continua a ser um momento importante para nos mantermos na vanguarda da Medicina Geral e Familiar, proporcionando não só a partilha de conhecimento e práticas inovadoras, mas também a construção de redes de colaboração que nos permitam crescer enquanto profissionais e melhorar os cuidados que prestamos aos nossos utentes. Foi, sem dúvida, um momento enriquecedor que tive o privilégio de poder partilhar com amigos e colegas nesta reta final do internato médico.

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