O auditório da Ordem dos Médicos no Porto recebeu no dia 10 de janeiro a primeira edição da Gala MGFamiliar, palco para a entrega dos Prémios Médicos de Família de Ouro, um evento organizado pelo portal MGFamiliar e durante o qual foram atribuídos os já mencionados prémios em dez categorias, com destaque para o «Médico de Família ao Longo da Vida» e o «Médico de Família do Ano». Para além destes galardões, foram também entregues distinções nas categorias «Melhor Tese de Doutoramento», «Melhor Artigo Científico», «Melhor Algoritmo», «Melhor Artigo A Não Perder», «Melhor Artigo Prescrição Racional», «Melhor Artigo MaisOpinião», «Melhor Educação para a Saúde» e «Melhor Ferramenta de Apoio à Consulta».
Na categoria «Médico de Família ao Longo da Vida», o prémio foi entregue aos Professores Isabel Pereira dos Santos e Jaime Correia de Sousa, dois pilares da MGF em Portugal. Jaime Correia de Sousa é amplamente reconhecido como mentor, investigador e inovador. Durante a sua carreira, liderou a implementação de formações pioneiras como diretor do Centro de Saúde de Ermesinde e do Instituto de Clínica Geral da Zona Norte. Foi co-fundador da Unidade de Saúde Familiar Horizonte, uma das primeiras do país, que serviu como modelo inspirador para a reforma dos Cuidados de Saúde Primários. No âmbito internacional, destacou-se pela representação de Portugal em diversas organizações médicas e de saúde relevantes, como o International Primary Care Respiratory Group (IPCRG). A sua trajetória reflete um compromisso inabalável com a excelência na prática médica e no desenvolvimento dos cuidados de saúde primários.
Já Isabel Santos coordenou o Internato de MGF da Zona Sul e liderou a elaboração do programa de formação da especialidade, publicado em 2019, que trouxe melhorias substanciais para a qualidade dos cuidados de saúde primários no país. Enquanto presidente do Colégio da Especialidade de MGF, introduziu mudanças significativas nos processos de avaliação, como a padronização da prova prática e a criação de uma prova escrita comum. No campo da investigação, publicou inúmeros artigos em áreas como multimorbilidade, ética médica e doenças crónicas, acumulando mais de 900 citações e orientando doutoramentos que impulsionaram a inovação na MGF.
Entre os muitos agradecimentos específicos a família e colegas que estiveram ao seu lado, durante todo o percurso que realizou, Jaime Correia de Sousa não quis deixar de fora o grupo mais amplo de todos aqueles que contribuíram para os seus sucessos: “as pessoas com quem me cruzei durante a minha atividade clínica e académica, profissionais de outras áreas e sobretudo pessoas de quem cuidei, como MF, na saúde e na doença, na prevenção e na cura e a quem tentei sempre responder e dar o meu melhor”. Por seu lado, Isabel dos Santos abordou alguns dos valores que tentou materializar ao longo da sua carreira e que podem, de alguma forma, explicar esta distinção: “sempre acreditei que a Medicina exige um compromisso genuíno com as pessoas e o bem-estar do próximo. Esse empenho só é possível quando estamos conscientes de que cada decisão pode transformar quem está ao nosso lado e ter impacto na sociedade”. Isabel dos Santos abordou a sua importante contribuição na área clínica, de investigação e formativa da MGF: “tentei melhorar o que estava a ser feito, incentivar o pensamento crítico, criar oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal para os meus pares e para os mais novos. Formar aqueles que dariam continuidade ao que começámos, porque formar outros é multiplicar a nossa capacidade de cuidar, é assegurar que a ética, a compaixão e a excelência serão perpetuadas”. A premiada defendeu ainda que na formação, investigação e prestação de cuidados “não se pode estacionar no que já foi feito. Foi com esse espírito que procurei desenvolver o meu trabalho e, se necessário, fazer fora da caixa. Foi esse o entusiasmo da minha vida, transformar as dificuldades em crescimento (…) Este prémio nunca pode ser visto como um troféu, é um lembrete do muito que há a fazer”.
O Prémio «Médico de Família do Ano» foi recebido pela Dra. Alexandra Fernandes, médica de família na USF Inovar que, entre 2022 e 2024, destacou-se como idealizadora e coordenadora do projeto Via Verde Saúde Seixal, que proporcionou cuidados de saúde a mais de 44 mil pessoas sem MF. O modelo inovador implementado permitiu a realização de quase 100 mil consultas médicas em dois anos, aliviando a sobrecarga nos serviços de saúde locais e servindo de inspiração para soluções semelhantes noutras regiões do país. “Dedico este prémio à equipa da Via Verde Saúde Seixal, constituída por especialistas em MGF, MF reformados, muitos internos de MGF, muitos médicos sem especialidade que trabalhavam sob a nossa tutela, um batalhão de enfermeiros especialistas e não especialistas e um grupo de extraordinários assistentes técnicos. Em conjunto, conseguimos tratar com dignidade 44 mil pessoas residentes no concelho do Seixal, que sem MF não tinham praticamente acesso a cuidados de saúde”, declarou Alexandra Fernandes. A vencedora deste prémio garante que muitos destes elementos transitaram para a hoje ativa USF Inovar, “que segue os mesmos princípios e trata perto de 20 mil pessoas que não tinham MF”. Alexandra Fernandes quis também dedicar o prémio ao “milhão e meio de cidadãos portugueses que ainda não têm MF e equipa de saúde familiar, aos que perderam o seu MF ou nunca o tiveram, aos estrangeiros que vivem em Portugal exatamente nas mesmas condições, mas particularmente ao grupo de migrantes que estão no nosso país e aqui trabalham e que por razões que lhes escapam estão em situação irregular. Desejo que todos tenham acesso a um dos maiores direitos na nossa sociedade; o acesso a um MF e a uma equipa de saúde familiar”.
Na cerimónia, o presidente da APMGF, Nuno Jacinto, que entregou o prémio «Médico de Família do Ano», garantiu que cada “MF faz a diferença no dia-a-dia, nas suas equipas, comunidades, listas e locais de trabalho, vida pessoal e cultural, em todo o lado. Recordo Richard Roberts, que ao encerrar a conferência da WONCA Europa, em 2014, na cidade de Lisboa, fazia referência à importância do um. Cada um de nós, enquanto MF, tem a capacidade de mudar uma pessoa e quando muda uma pessoa muda uma família, uma comunidade, o país e o mundo. Obrigado, então, a todos os MF, por fazerem a diferença a cada dia que passa e por fazerem da MGF a melhor especialidade do mundo!”.
Já Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos (OM), salientou o facto de os MF “darem o corpo às balas, por estarem na linha da frente do SNS e dos cuidados de saúde”, muitas vezes a trabalhem em péssimas condições: “mesmo assim, vejo um vasto conjunto de colegas a insistirem e a continuarem a acreditar (…) Tenho de vos agradecer por este esforço permanente que fazem, inclusive nesta reforma das ULS que, infelizmente, vos tem esquecido”. O bastonário acrescentou ainda que se orgulha de representar os profissionais desta especialidade clínica e que “a imagem que os MF deixam dos médicos, todos os dias, é a melhor possível”.
Na ótica do fundador do portal MGFamiliar e organizador da gala, Carlos Martins, o evento foi “muito mais do que aqueles que estiveram presentes, que foram nomeados ou receberam os prémios. Foi um evento sobre todos nós, sobre o orgulho de ser MF. É, de facto, muito bom ter a oportunidade de dizer ao colega que está ao nosso lado que apreciamos a forma de ele ser, estar e exercer, que agradecemos o que aprendemos com ele e gostamos da forma como ele trata os seus doentes”.
Luís Pisco, ex-presidente da APMGF e da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, antigo diretor do do Instituto da Qualidade em Saúde e coordenador da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, destacou que numa circunstância de feliz celebração estão “também de parabéns os muito portugueses e não portugueses que utilizam o SNS e beneficiam do facto de terem dos melhores MF a nível mundial”.
“Celebrar o nosso trabalho e a nossa atividade, os nossos sucessos, a nossa postura dentro da sociedade, da Medicina e da Saúde, é fundamental e nada melhor do que uma gala, com esta pompa e força, para o fazer”, referiu no Porto André Biscaia, presidente da USF-AN. Por seu turno, a atual presidente do Colégio de MGF da OM, Paula Broeiro, considerou que a gala e os prémios ali apresentados representam um “momento luminoso e uma luz de esperança em tempos escuros para a MGF, que ao colocar a especialidade no lugar certo do sistema de saúde também a irá colocar onde merece, na academia”.
Premiados
Médico de Família ao Longo da Vida
Maria Isabel Pereira dos Santos
Jaime Correia de Sousa
Médico de Família do Ano
Alexandra Fernandes
Melhor Tese de Doutoramento
Carlos Seiça Cardoso
Melhor Artigo Científico
Tania Coelho, Inês Rosendo e Carlos Seiça Cardoso:
“Evaluation of deprescription by general practitioners in elderly people with different levels of dependence: cross-sectional study”, publicado na BMC Primary Care
Melhor Artigo A Não Perder
Luís Bicheiro: “O tempo necessário para implementar tudo o que está recomendado na consulta de MGF ultrapassa o tempo disponível”
Melhor Artigo Prescrição Racional
Rebeca Cunha: “A testosterona não aumenta risco de eventos cardíacos graves, mas acarreta outros riscos”
Melhor Educação para a Saúde
Ana Raquel Sousa, Joana Moura, José Melo, Sílvia Fernández, Sofia Carvalheiras:
“Boletim Informativo para a Grávida”
Melhor Ferramenta de Apoio à Consulta
Mariana Ferreira, Mariana Reis, Tiago de Castro Almeida: “Tabela de ajuste farmacológico na insuficiência renal”
Inês Franco, Luís Palma, Miguel Ambaram: “Hipertensão secundária”
Melhor Artigo MaisOpinião
Carolina Andrade: “Um país de velhos que não é para velhos”
Melhor Algoritmo
Manuel Veloso, João Sobral, Carolina Quental, Miguel Monteiro:
“Abordagem e tratamento de sintomas do trato urinário inferior”